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25 de março de 2011

Nas tragédias, a compaixão surge como a mais humana das virtudes

Diante da desgraça, não há como não sermos samaritanos

O terremoto no Japão, seguido de um tsunami, o vazamento de gases radioativos de usinas nucleares afetadas e os deslizamentos ocorridos nas cidades serranas do Rio de Janeiro provocaram em nós, com certeza, duas atitudes: compaixão e solidariedade.


Primeiro, irrompe a compaixão. A compaixão talvez seja, entre as virtudes humanas, a mais humana de todas, porque não só nos abre ao outro, como expressão de amor dolorido, mas ao outro mais vitimado e mortificado. Pouco importam a ideologia, a religião, o status social e cultural das pessoas. A compaixão anula essas diferenças e faz estender as mãos às vitimas. Ficarmos cinicamente indiferentes mostra suprema desumanidade, que nos transforma em inimigos de nossa própria humanidade. Diante da desgraça do outro, não há como não sermos os samaritanos compassivos da parábola bíblica.


A compaixão implica assumir a paixão do outro. É transladar-se ao lugar do outro para estar junto dele, sofrer com ele, chorar com ele. Talvez não tenhamos nada a lhe dar e até as palavras nos morram na garganta. Mas o importante é estar ali junto dele e não permitir que sofra sozinho.

Mesmo que estejamos a milhares de quilômetros de distância de nossos irmãos japoneses ou perto de nossos vizinhos das cidades serranas cariocas, o padecimento deles é o nosso padecimento, seu desespero é o nosso desespero, os gritos que lançam ao céu - "Por que, meu Deus, por quê?" - são nossos gritos. E partilhamos da mesma dor de não recebermos nenhuma explicação. E, mesmo que existisse, ela não desfaria a devastação, não reergueria as casas, nem ressuscitaria os mortos.


A compaixão tem algo de singular: ela não exige nenhuma reflexão prévia, nem argumento que a fundamente. Ela se nos impõe porque somos essencialmente seres compassivos. A compaixão refuta a noção do biólogo Richard Dawkins do "gene egoísta". Ou o pressuposto de Charles Darwin de que o triunfo do mais forte regeria a dinâmica da evolução. Ao contrário, não existem genes solitários, mas todos são conectados e nós, humanos, somos enredados em teias de relações que nos fazem seres de cooperação e solidariedade.


Mais e mais cientistas sustentam a tese de que a lei suprema do processo cosmogênico é o entrelaçamento de todos com todos, e não a competição que exclui. O equilíbrio da Terra, tido como um superorganismo que se autorregula, requer a cooperação de um sem número de fatores que interagem entre si com as energias do universo, com a atmosfera, com a biosfera e com a Terra.

Esse equilíbrio é agora perturbado pela excessiva pressão que a nossa sociedade consumista e esbanjadora faz sobre os ecossistemas e que se manifesta pela crise ecológica generalizada.
Na compaixão se dá o encontro de todas as religiões, éticas, filosofias e culturas. No centro está a dignidade dos que sofrem.


A segunda atitude, afim à compaixão, é a solidariedade. Ela obedece à mesma lógica. Vamos ao encontro do outro para salvar-lhe a vida, trazer-lhe água, alimentos, agasalho e calor humano. Sabemos que nos fizemos humanos quando superamos a fase da busca individual dos meios de subsistência e começamos a buscá-los coletivamente e a distribui-los cooperativamente entre todos.

O que nos humanizou ontem, nos humanizará ainda hoje. Por isso é tão comovedor assistir a como tantos se mobilizam, de todas as partes, para ajudar as vítimas e pela solidariedade dar-lhes o que precisam, sobretudo a esperança de que, apesar da desgraça, ainda vale a pena viver.

Escrito por:Leonardo Boff







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