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7 de janeiro de 2011

Nosso futuro depende de uma nova cosmologia, ainda por fazer

Só a Terra nos poderá salvar, mas a estamos destruindo

Toda mudança de paradigma civilizatório é precedida por uma revolução na cosmologia. O mundo atual surgiu com a extraordinária revolução que Copérnico e Galileo Galilei introduziram ao comprovarem que a Terra não era um centro estável, mas que girava ao redor do Sol. Isso gerou enorme crise nas mentes e na Igreja. Mas, lentamente, impô-se a nova cosmologia que perdura até hoje. Manteve-se, porém, o antropocentrismo, a ideia de que o ser humano continua sendo o centro de tudo e de que as coisas são destinadas ao seu prazer.

Se a Terra não é estável - pensava-se -, o universo, pelo menos, é estável. Seria como uma incomensurável bolha, dentro da qual se moveriam os astros celestes e todas as demais coisas.

Eis que essa cosmologia começou a ser superada quando, em 1924, um astrônomo amador, Edwin Hubble, comprovou que o universo não é estável. Constatou que todas as galáxias, bem como todos os corpos celestes, estão se afastando uns dos outros. O universo, portanto, não é estacionário como acreditava Einstein. Está se expandindo em todas as direções. Seu estado natural é a evolução e, não, a estabilidade.

Essa constatação sugere que tudo tenha começado a partir de um ponto extremamente denso de matéria e energia que, de repente, explodiu (big bang), dando origem ao atual universo em expansão. Isso foi proposto, em 1927, pelo padre e astrônomo George Lemaître, o que foi assumido como teoria comum. Em 1965, Arno Penzias e Robert Wilson demonstraram que, de todas as partes do universo, nos chega uma radiação mínima que seria o derradeiro eco da explosão inicial. Analisando o espectro da luz das estrelas mais distantes, a comunidade científica concluiu que essa explosão teria ocorrido há 13,7 bilhões de anos. Eis a idade do universo e a nossa própria, pois um dia estávamos, virtualmente, todos juntos, lá naquele ínfimo ponto flamejante.

Ao expandir-se, o universo gera complexidades cada vez maiores e ordens cada vez mais altas. É convicção dos cientistas que, alcançado certo grau de complexidade, a vida emerge. Assim, também, a consciência e a inteligência. Todos nós - nossa capacidade de amar e de inventar - não estamos fora da dinâmica geral do universo. Somos partes desse imenso todo.

A partir dessa nova cosmologia, nossa vida, a Terra e todos os seres devem ser resignificadas. Tudo e todos são emergências desse universo em evolução.

Essa revolução não provocou ainda uma crise semelhante à do século XVI, pois não penetrou suficientemente nas mentes da maioria da humanidade, nem da intelligentzia, muito menos dos empresários e dos governantes. Mas está presente no pensamento ecológico, sistêmico, holístico e em muitos educadores, fundando o paradigma da nova era, o ecozóico.

Por que é urgente que se incorpore essa revolução paradigmática? Porque é ela que nos fornecerá a base teórica necessária para resolvermos os atuais problemas do sistema Terra, em processo acelerado de degradação. Ela nos permite ver nossa interdependência e mutualidade com todos os seres. Formamos junto com a Terra viva a grande comunidade cósmica e vital. Somos a expressão consciente do processo cósmico, responsáveis por essa porção dele, a Terra, sem a qual tudo o que estamos dizendo seria impossível. Porque não nos sentimos parte da Terra, a estamos destruindo. O futuro do século XXI e de todas as COPs dependerá da assunção ou não dessa nova cosmologia.


Na verdade, só a Terra nos poderá salvar.


Escrito por:Leonardo Boff

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