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7 de agosto de 2011

Nem sempre é o universo que está conspirando contra você

Para entender a responsabilidade de cada um, é preciso refletir mais

Foi só você entrar no carro para se lembrar de que não passou no posto na noite anterior e não há uma gota de combustível para dirigir até o trabalho. Na sua cabeça, a culpa é obviamente dos seus pais, que pediram para você passar na padaria depois que saísse do escritório e o fizeram esquecer de abastecer o carro.

Não é um grupo seleto da sociedade que se sente a vítima de diversas situações a todo momento. Esse comportamento é muito mais comum do que parece e é possível mudar. Exemplo de quem superou isso é a advogada e escritora Ruthe Rocha Pombo, autora do livro "Como Lidar com Pessoas Difíceis, a Começar por Mim", publicado pela Editora Santuário.
Reconhecer que era preciso parar de sentir pena de si mesma foi um dos primeiros passos para Ruthe entender onde a culpa deveria estar. "Percebi que, se eu não mudasse, nada mudaria. Continuaria escrava da mesmice e do complexo do ‘coitadismo’", afirma.

O psicanalista Pedro Castilho, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), explica que é mais fácil delegar responsabilidades ao outro para não precisarmos lidar com frustrações no cotidiano. "Temos uma imagem de um certo "eu" ideal, perfeito, que não teria falhas, furos, nenhuma imperfeição", aponta.

Ele considera, porém, que pessoas com sobriedade reconhecem que o erro faz parte da vida. "Pode ser uma pessoa mais cautelosa, responsável. Se achar que é perfeita, a responsabilidade não faz parte dos seus objetivos", explica.

Ruthe conta que seu sentimento de culpa causava raiva por ela mesma. "Quando cometia um erro, ficava me maltratando. Comecei a estabelecer limites diante de abusos. Percebo que me tornei mais agradável", conta sobre a superação dos desafios desse processo.

Origem. A ideia de colocar a culpa em terceiros tem origem na infância, segundo a psicóloga e psicanalista Carolina Gomes Pavan Gonçalves, da Unidade Regional de Saúde Mental da Prefeitura de Congonhas, na região Central de Minas Gerais. "É comum ou esperado que a criança não vá resolver nada sozinha", afirma. Porém, o comportamento que persiste precisa ser revisto. "Isso entra na dificuldade de cada um reconhecer as responsabilidades de si nas escolhas da vida", comenta.

Além disso, sentir culpa em excesso ou viver apontando o dedo para os outros pode provocar até mesmo o isolamento de quem o faz ou recebe. A artista plástica Alice, 24, que prefere ser identificada por um nome fictício, revela que os próprios pais são "eternas vítimas" difíceis de lidar. "Se meu pai não encontra uma pessoa para culpar, ele culpa o "diabo". Acha que tudo é perseguição e espera sentado", diz.

A jovem chegou a tentar conversar com os familiares, mas certa de que a situação não seria diferente, Alice preferiu ignorá-los e se afastar desse comportamento. "Todo mundo tem escolhas e não é certo culpar os outros se eles mesmos podem lutar e não aceitar certas coisas", opina.

As pessoas com dificuldades para encontrar a origem da culpa podem sofrer em silêncio e, assim, também buscar a distância. "É como uma forma desesperada de a pessoa tentar evitar sofrimento e ela vai para o isolamento", observa Carolina.

A dica dos especialistas para buscar a harmonia no comportamento é observar a repetição das atitudes. "A pessoa deve ficar mais atenta e escutar os toques que as pessoas próximas dão", orienta a psicóloga. Porém, a mudança de perspectiva não é fácil nem acontece da noite para o dia. "Abrir mão dessas posições traz desconforto, mas, se for bem trabalhado, pode gerar muitas coisas positivas", afirma a especialista.

Minientrevista
Rocha Pombo Advogada Autora do livro "Como Lidar com Pessoas Difíceis, a Começar por Mim

Quais foram as suas inspirações para escrever o livro? Queria ajudar as pessoas a serem felizes como eu. Havia descoberto que tinha a capacidade de gerenciar meus próprios pensamentos e dar nova direção às minhas emoções. Uma das técnicas foi o D.C.D (duvidar, criticar, determinar). Duvide de suas fobias, medos e tristezas; critique-se; determine-se a abrir as janelas da racionalidade.

Depois que você começou a mudar de atitude, quando percebeu mudanças positivas? As principais mudanças: parei de me justificar; parei de chorar de pena de mim; comecei a me olhar com mais misericórdia; descobri a alegria de ser minha melhor amiga. Assumi o provérbio árabe: Ruthe, não se ame somente quando você merece, mas principalmente quando não merece, pois é quando mais precisa.

As pessoas conhecidas e as que você se afastou perceberam a sua mudança? Houve alguns choques, quando parei de ser "boazinha" com os outros, optando em ser bondosa comigo. Eu percebo que me tornei mais agradável.

Quais as suas dicas para se relacionar com uma pessoa difícil de lidar? Amá-la, em primeiro lugar. Se recebi da vida lições de força, tenho que tolerar os fracos. As pessoas que me ferem são pessoas machucadas, muitas vezes não sabem o que fazem. Devemos nos silenciar diante de uma agressividade, assim damos ao outro a oportunidade de se escutar. Fazer um feedback após cada contato para mudar a forma de agir. Não receber a ofensa como algo pessoal: olhe-a com misericórdia. Surpreenda-a abraçando-a. Coloque-se com toda a honestidade no lugar da pessoa. O amor é contagioso.




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