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15 de junho de 2011

A nada fácil vida dos gagos

Premiado. O ator Colin Firth vive o rei Jorge VI em "O Discurso do Rei", filme que abre uma nova percepção sobre esse distúrbio
O escritor Machado de Assis carregava consigo, lá no fundo do coração, suas mágoas: o preconceito sofrido por ser mulato, por ter epilepsia e por ser gago.

Conta-se que, em certa ocasião, ele conversava fluentemente com uma atriz famosa e, ao perceber a sua fluência, a ela teria comentado: "Tinham me dito que o senhor era muito gago e, no entanto, vejo que fala muito bem". Machado se descontrolou e começou a gaguejar, respondendo: "Calúnias, a mim também me avisaram de que a senhora era muito estúpida, e vejo que não é tanto assim".

Esse episódio ilustra minimamente o desconforto dos gagos. "A gagueira é uma alteração da fluência verbal, caracterizada por bloqueios na emissão, prolongamentos ou repetições de fonemas ou silabas", explica Beatriz Tolentino Gontijo, fonoaudióloga do Instituto da Voz e da Fala, clínica pioneira em Minas Gerais nesse tipo de atendimento.

Teorias. Hoje, diz ela, não se acredita mais que a causa seja unicamente psicogênica. "A dinâmica familiar influi muito no seu estabelecimento. Pesquisas mostram uma importante relação entre a gagueira e os traços hereditários".

Existem diversos estudos sobre o distúrbio. "O problema é complexo. Não existe somente uma causa que explique todos os casos de gagueira. Ao longo dos anos, estudiosos propuseram algumas teorias quanto a sua etiologia. Ela seria o resultado de um conflito psiconeurótico, problema neurológico ou um comportamento adquirido", diz a especialista.

O tratamento deve ser feito por foniatras ou fonoaudiólogos, o mais precocemente possível. "Existem muitas técnicas de abordagem desse sintoma. O profissional deverá optar por aquela que seja mais adequada ao paciente. Quando o tratamento é iniciado precocemente, temos mais chances de que a gagueira não se instale. Quando ela já está estabelecida, o tratamento pode diminuí-la e, em alguns casos, pode se tornar tão suave a ponto de ser imperceptível aos menos atentos", diz Beatriz.

Prevalências. Ao que parece, a gagueira acomete mais o sexo masculino, geralmente surge na infância entre 2 e 5 anos, sem nenhuma causa aparente, mas também pode ocorrer após um acidente vascular cerebral ou traumatismo cranioencefálico.

A gagueira na infância é, na maioria dos casos, transitória e desaparece com o desenvolvimento da linguagem (gagueira fisiológica). Em outros, ela permanece passando a ser, então, uma gagueira estabelecida. "Acreditamos que a gagueira esteja relacionada a fatores emocionais como insegurança, timidez, ansiedade e estresse", pontua a fonoaudióloga.

Marcas. Ninguém passa impunemente pela gagueira. O fonoaudiólogo Charles Van Riper confessou aos 82 anos: "Gaguejei todos os dias da minha vida. Acho que tenho uma gagueira incurável. Todo mundo tem seu próprio demônio pessoal e o meu é a gagueira. Depois que entendi que a gagueira é um problema e aprendi a lidar com ela (sem evitá-la, escondê-la ou lutar contra ela), meu demônio deixou de me deter".

Riper tinha uma gagueira grave com longos bloqueios acompanhados por contorções faciais e espasmos, que tornou sua comunicação quase impossível. Mas superou e se surpreendeu. Casou, teve três filhos, nove netos e uma vida muito bem-sucedida, inclusive financeiramente.





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