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20 de junho de 2011

Cerca de 40% das jovens desempregadas têm filhos

Escolha. Camila Lavorato, 22, passou quase dois anos sem trabalhar, pois quis cuidar de Catarina, 3

Além de limitar crescimento do país, fato mostra problema social

As mulheres representam quase 930 mil dos 1,2 milhão de jovens brasileiros, de 18 a 24 anos, com ensino médio completo, mas sem curso superior e sem trabalhar,
O que mais atrai a atenção é que 40% delas têm filhos, independentemente de serem casadas. Isso é o que mostra o Boletim de Estudos Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgado em janeiro deste ano.

Uma das explicações para essa situação das mulheres, segundo a socióloga Neuma Aguiar, professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é a falta de autopreservação das jovens. "Muitas vezes, a mulher não sabe se impor, pedir uma relação com proteção", diz, referindo-se à gravidez antecipada.

Outro fator que leva as mulheres a não darem continuidade aos estudos e à carreira é considerar a maternidade como "destino". "Algumas jovens veem a maternidade como forma de se tornarem adultas", afirma Neuma. Além disso, diz, em algumas situações, a mulher não conta com apoio.

Opção. Camila Lavorato, 22, escolheu ficar durante dois anos cuidando somente da filha, Catarina, hoje com 3. Logo que se formou no ensino médio, aos 18, a jovem ficou grávida do namorado. "Ela era muito pequena, então fiquei cuidando dela", diz Camila, que contou com o apoio financeiro do namorado e dos pais.

Quando a filha completou 1 ano, no fim de 2008, Camila voltou a trabalhar como auxiliar administrativo. Porém, ela diz que, se não fosse a ajuda da irmã, teria dificuldades para encontrar trabalho. "O mercado é mais fácil para quem tem curso superior, técnico, especialização", opina Camila, que quer cursar direito.

O temor da jovem é realidade para muitas mulheres. "Infelizmente, esse tempo de afastamento pode representar a exclusão de melhores cargos e salários, chegando até mesmo ao risco da total exclusão do mercado formal", diz Leandro Chevitarese, professor de ética e responsabilidade social nos da Fundação Getúlio Vargas/IBS.

Para ele, além de o fenômeno representar problemas, como limitação do crescimento econômico do país, é um agravante às condições de vida. "A inatividade vem acompanhada não somente da dependência financeira de maridos e familiares, mas também articulada à perda de estima pessoal, fortalecendo a inaceitável submissão feminina que ainda persiste em nossa sociedade", diz.

Com apoio da família, é possível conciliar
Conciliar estudo e trabalho com a maternidade é tarefa de muitas mulheres. Porém, para o professor da FGV Leandro Chevitarese, a sociedade cobra "duplamente" da mulher. "Ela precisa ser uma excelente profissional e, simultaneamente, ser uma mãe dedicada e exemplar", diz. Para ele, é preciso que os próprios parceiros apoiem o retorno da mulher ao mercado, "rediscutindo a distribuição das tarefas domésticas" e a educação dos filhos.
A publicitária Carla Leal Medeiros, 24, mãe de Alice, 1, por exemplo, optou por conciliar as tarefas. Quando engravidou do namorado, ela estava no fim da faculdade e, atualmente, faz pós-graduação em marketing. A jovem agora espera conseguir vaga de trainee em uma empresa. "Não só o namorado, mas meus pais me apoiam e acham superimportante eu avançar na carreira. Filho não atrapalha nem impede", afirma.
Análise
Falta de creche é um dos problemas

A falta de creches no país é um problema levantado pela socióloga Neuma Aguiar. Muitas mães não podem contar com esse suporte, então tentam voltar ao mercado somente quando os filhos crescem. Porém, para a especialista, a solução não inclui apenas aumentar o número de creches.

"É preciso uma tentativa de quebrar com a herança social da pobreza", diz, citando políticas de estímulo à educação sexual nas escolas como opção. "É um problema social e a sociedade paga por isso".

O professor Leandro Chevitarese reforça a necessidade de ação do governo. "O apoio passa pela criação de creches com horários que viabilizem o retorno da mulher ao mercado", afirma, ressaltando que é preciso também incentivo a cursos de atualização e políticas para contratação.

"O princípio ético da responsabilidade social exige que empresas desenvolvam práticas que favoreçam a minimização de problemas sociais", diz.



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