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20 de maio de 2011

Felicidade não é só bem-estar, mas um conjunto de elementos

Ser humano pode achar alegria em atividade que causa descontentamento

NOVA YORK, EUA. Martin Seligman, professor de psicologia da Universidade da Pensilvânia e fundador do movimento da psicologia positiva, alega que, hoje em dia, a felicidade é um item supervalorizado. Entretanto, nos anos 1990, quando era presidente da Associação Psicológica Norte-Americana, ele criticava colegas por se concentrarem incansavelmente nas doenças mentais e em outros problemas. Ele os incentivava a estudar as alegrias da vida e até chegou a escrever um best-seller em 2002 intitulado "Felicidade Autêntica".

Agora, porém, ele se arrepende desse título. Seligman passou a ver certas limitações no conceito de felicidade. Por que casais continuavam tendo filhos embora dados mostrassem claramente que os pais são menos felizes do que os casais sem filhos? Por que bilionários buscam mais dinheiro desesperadamente mesmo quando não há nada que eles queiram fazer com a grana?

Seligman, que é um carteador ávido, começou a observar jogadores de bridge. Nos torneios, eles nunca sorriam, nem mesmo quando venciam. Eles não jogavam para ganhar dinheiro ou fazer amigos. Os jogadores não saboreavam aquela sensação de engajamento total em uma tarefa, situação que os psicólogos chamam de "fluxo". Eles não tinham uma satisfação estética em jogar uma rodada de forma inteligente e "ganhar bonito". Eles queriam ganhar feio, mesmo se isso às vezes significasse trapacear. "Eles queriam ganhar por ganhar, mesmo se isso não trouxesse nenhuma emoção positiva", disse Seligman.

Segredo. Esse sentimento exclusivo de realização contribui para o que os gregos antigos chamavam de eudemonismo, que se traduz mais ou menos como "bem-estar" ou "florescimento", conceito que Seligman pegou emprestado para o título do seu novo livro, "Flourish" (Florescer). Ele identificou cinco elementos cruciais para o bem-estar: emoção positiva, engajamento (a sensação de estar imerso em uma tarefa), relacionamentos, significado e realização. "O bem-estar não pode existir só na sua própria cabeça", escreve Seligman. "O bem-estar é uma combinação de sentir-se bem e, realmente, ter significado, bons relacionamentos e realização".

Satisfação. O movimento da psicologia positiva inspirou estudos em todo o mundo para avaliar o estado mental das pessoas, como um novo projeto na Grã-Bretanha para medir o que o premiê David Cameron chama de bem-estar geral. Seligman se diz contente ao ver governos medindo algo além do PIB, mas se preocupa com o fato de essas pesquisas perguntarem às pessoas principalmente sobre a "satisfação com a vida".

Em teoria, a satisfação com a vida pode incluir vários elementos do bem-estar. Mas, segundo Seligman, na prática, as respostas das pessoas a essa pergunta são amplamente (mais de 70%) determinadas pela forma como elas estão se sentindo no momento da pesquisa, não como elas avaliam suas vidas no geral. "A satisfação com a vida mede essencialmente estados de ânimo alegres, então não serve como ponto central em qualquer teoria que busque ser mais do que uma ‘felicidadelogia’", escreve Seligman em "Flourish". Por esse padrão, destaca o psicólogo, um governo poderia melhorar seus índices distribuindo o tipo de droga euforizante que Aldous Huxley descreveu em "Admirável Mundo Novo".


Escala
Pesquisa tenta avaliar "florescimento"


NOVA YORK. A melhor escala de bem-estar (ou florescimento) já criada, na opinião do psicólogo Martin Seligman, foi apontada um estudo sobre 23 países europeus feito por Felicia Huppert e Timothy So, da Universidade de Cambridge. Além de questionar os entrevistados sobre seu estado de espírito, os pesquisadores perguntaram aos voluntários sobre seus relacionamentos com outras pessoas e a sensação de estarem realizando algo compensador.

Dinamarca e Suíça tiveram os índices mais altos na Europa, com mais de 25% dos seus cidadãos encaixando-se na definição de florescimento. Lá em baixo, com menos de 10% de florescimento, ficaram França, Hungria, Portugal e Rússia. Não existe comparação disponível com os Estados Unidos, embora alguns pesquisadores digam que os norte-americanos se sairiam razoavelmente bem devido à sua noção de realização.

O economista Arthur Brooks observa que 51% dos norte-americanos dizem estar muito satisfeitos com seus empregos, uma percentagem mais alta do que em qualquer outro país europeu, com a exceção de Dinamarca, Suíça e Áustria.

Em seu livro publicado em 2008, "Gross National Happiness" ("Felicidade Nacional Bruta"), Brooks argumenta que o fundamental para o bem-estar não é o nível de alegria que se sente nem quanto dinheiro se ganha, mas o significado que se encontra na vida e a sensação de "sucesso conquistado" a crença de que se criou valor na própria vida ou na dos outros. "As pessoas encontram significado ao amar incondicionalmente os filhos", escreve Brooks, que também é presidente do American Enterprise Institute. "Paradoxalmente, a felicidade aumenta pelo fato de se estar disposto a ter a felicidade justamente diminuída ao longo dos anos de fraldas sujas, ataques de raiva e respostas rudes. A disposição a aceitar a infelicidade por causa dos filhos é uma fonte de felicidade".




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