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18 de maio de 2011

Cientistas italianos reabrem a discussão sobre a fusão a frio

Andrea Rossi e Sergio Focardi diante do protótipo
Máquina usa níquel e hidrogênio para gerar energia sem a emissão de radiação
Promessa de uma fonte quase ilimitada de energia barata sem qualquer subproduto radioativo ou emissões de carbono, a chamada fusão a frio há muito é vista com ceticismo pela ciência. Pudera: a ideia de que dois pequenos átomos podem se fundir em um outro maior a uma temperatura quase ambiente e liberando grande quantidade de energia vai contra algumas leis fundamentais da física.

Por isso tem causado rebuliço o anúncio feito por dois cientistas italianos da construção de uma máquina de fusão a frio operacional e comercialmente viável. Segundo o engenheiro Andrea Rossi e o físico Sergio Focardi, o reator funde núcleos atômicos de níquel e hidrogênio, transformando água em vapor quente, que é utilizado em usinas para gerar eletricidade.

Apresentada no início do ano para cientistas da Universidade de Bolonha, na Itália, a máquina, chamada de "catalisador de energia", ou E-cat, consome no processo 400 watts iniciais e gera 12.400 watts ao final. E, da fusão do níquel com o hidrogênio, resulta o elemento cobre sem qualquer vestígio radioativo.

Na apresentação em Bologna, o reator foi operado por Giuseppe Levi, um físico nuclear do Instituto Nacional Italiano de Física Nuclear, que não está envolvido no projeto e confirmou que a energia gerada não era de origem química.

O problema Rossie e Focardi não forneceram quaisquer detalhes sobre como funciona o reator e admitem que não conseguem explicar como a fusão a frio é provocada. "Por trás desse processo, existem alguns problemas teóricos ainda não resolvidos", disse Rossi, durante a apresentação.

Para a dupla de cientistas, a geração de cobre e a liberação de energia são provas suficientes da eficácia do E-cat e da necessidade de mais investimentos. "Estamos no Ford T, precisamos chegar à Fórmula 1", comparou Rossi.

O argumento, entretanto, não convenceu a comunidade científica. Após o artigo sobre o E-cat ter sido recusado por várias revistas científicas, ele foi publicado no "Journal of Nuclear Physics", uma revista on-line que parece ter sido fundada por Rossi e Focardi.

Para a dupla, a reprovação da academia não faz diferença. Segundo eles, importante mesmo foi o interesse manifestado por empresa grega de montar uma planta industrial ainda neste ano. Se isso realmente acontecer, estaremos diante de uma nova era mundial.



Tecnologia dificilmente será adotada no Brasil

Mesmo que o experimento dos italianos Andrea Rossi e Sergio Focardi funcione, a tecnologia da fusão a frio dificilmente seria adotada no Brasil nas próximas décadas. Essa é a avaliação de João Roberto de Matos, diretor do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear, órgão de pesquisa da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).

"Há várias iniciativas que têm viabilidade no laboratório, mas que são difíceis de serem adotadas na indústria. Dentro de ao menos 30 anos, não vejo como a fusão a frio possa ser colocada em uma linha de energia elétrica paga pelo consumidor com segurança, confiabilidade e economia", explica o diretor da instituição científica ligada à UFMG.

Segundo Matos, o país desenvolve projetos de reatores de fissão. "Trabalhamos avaliando tecnologias dentro de um horizonte de planejamento energético até 2050 e hoje projetamos os chamados reatores de geração 4, aqueles que queimam o próprio resíduo radioativo e reduzem o passivo ambiental. Mas são tecnologias para a segunda metade do século".

O que não significa que a fusão nuclear não interesse ao Brasil. Segundo Marcos Nogueira Martins, diretor de pesquisa e desenvolvimento da CNEN, há grupos no país que estudam a fusão atômica, mas a termonuclear, como a que acontece no sol. "Sou muito cético com relação à fusão a frio. É necessária muita energia para isso", diz Martins. (MF)


Fiasco nos EUA tornou assunto tabu acadêmico

Poucas áreas da ciência são mais controversas do que a fusão a frio. Ainda mais após o fiasco protagonizado pelos químicos Martin Fleischmann e Stanley Pons, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, em 1989. Na ocasião, a dupla anunciou à imprensa que havia obtido a fusão a frio de paládio e deutério.

Imediatamente, cientistas de todo o mundo tentaram reproduzir o experimento, sem sucesso. Após muita discussão, um comitê internacional liderado por um ganhador do prêmio Nobel, o italiano Carl Rubbia, concluiu que Fleischmann e Pons haviam contaminado as amostras e que a experiência era um fracasso para não dizer fraude. Desacreditada, a dupla de químicos caiu no ostracismo.

Desde então, o assunto é tratado como tabu pela academia. Inclusive no Brasil, como conta um professor de física que participou de testes afins em 1989 na UFMG e pede para não ter o nome associado ao assunto nesta reportagem. "Teoricamente, a fusão a frio é possível, mas ela teria de ser comprovada várias vezes antes de alguém ressuscitar o assunto", diz o professor.


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