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7 de abril de 2011

Letra cursiva está ficando de lado, e a legibilidade também

Ênfase no ensino da caligrafia perde espaço diante do uso crescente do computador nas escolas

Denver, EUA. Em um mundo onde o uso do papel é cada vez menor, a ênfase na escrita cursiva perdeu-se no caminho. Nas escolas onde ela ainda é ensinada, o tempo dedicado à sua prática em geral, diminuiu. Mas grupos de adeptos ávidos ainda defendem com entusiasmo o seu lugar no currículo do ensino fundamental.

Na escola primária Grant Ranch, no Colorado (EUA), os professores têm ampla liberdade para abordar a escrita cursiva como acharem melhor - e suas abordagens refletem a crescente ambivalência institucional com relação à escrita livre. "Minha neta de 5 anos tem interesse pela escrita cursiva", diz Edward, um professor de tecnologia que lecionou na pré-escola por 12 anos. "Mas fazer com que ela a use, torná-la necessária, acho que não vai acontecer, porque a digitação é muito mais rápida", justifica.

Até este ano, a professora Sue Workman concordava com a ideia de que a eficácia da cursiva proporcionava uma habilidade fundamental para fazer anotações na escola e na faculdade. Então sua estagiária explicou que passou pela faculdade sem fazer anotações manuscritas.

Em cima disso, um dos professores de seu filho que estuda no ensino médio comentou que ele escrevia em linda letra cursiva - na verdade, ele era o único aluno que fazia isso. Aqueles eram os seus pontos de ruptura. "Se eles não estão usando quando estão mais velhos, por que estamos exigindo isso agora?", pergunta Workman. "As crianças não gostam de escrever em letra cursiva e é uma discussão todo ano. Eu decidi que essa é uma batalha da qual eu não vou participar mais. Agora, estou começando a acreditar que está realmente se tornando obsoleto".


O professor Steve Graham, da Universidade Vanderbuilt, que estudou a fundo instruções de escrita, não vê o desaparecimento da escrita à mão das escolas tão cedo. Estudos têm mostrado repetidamente que os processadores de textos produzem uma escrita geral melhor do que qualquer uma feita à mão, diz Graham, e os computadores tendem a predominar em casa e no trabalho. Mas as escolas não tem tecnologia suficiente para atender a todos os alunos.

A escrita à mão, ressalta Graham, carrega dois efeitos significantes - um "efeito escritor" e um "efeito leitor". O primeiro se refere à dificuldade de escrever rápido o suficiente para manter o ritmo com os pensamentos.

Mas o "efeito leitor" tem dois aspectos. Enquanto uma péssima caligrafia pode atrapalhar a mensagem, a qualidade da caligrafia legível tem mostrado ter uma influência "insidiosa" sobre como as ideias são percebidas. Em composições pontuadas somente na qualidade das ideias, a caligrafia ruim, mas legível, pode derrubar a pontuação, enquanto uma caligrafia bem legível, melhorar a nota final. O processador de texto elimina o efeito leitor por causa de sua legibilidade uniforme, diz Graham.

E, finalmente, muitos documentos em papel, tais como formulários de empregos que requerem respostas escritas à mão, irão desaparecer. "Não me entenda mal. Não estamos nesse ponto. Eu acho que escrever à mão é importante, porque as escolas não usam ferramentas do século XXI. Eu não a vejo desaparecendo ou toda criança tendo um computador, por enquanto, com poucas exceções", conclui.

Benefícios
Prática ajuda a desenvolver o cérebro e melhora a leitura

Denver. Cindee Will, diretora da Escola Primária James Irwin, no Colorado, cita as razões culturais e evolucionistas para se adotar a escrita cursiva. A letra de forma às vezes revela o que ela chama de "confusão no cérebro" não necessariamente a dislexia, mas um problema mais comum, manifestado, por exemplo, ao se confundir as letras b e d.


Will afirma que a escrita cursiva, na qual o lápis geralmente não sai do papel até o fim da palavra, pode se combinar com um programa de acústica (uso da fonética no ensino da leitura) para reforçar uma direcionalidade da esquerda para a direita que conecta a escrita à leitura. "Eu acredito que uma das melhores maneiras de refletir a alfabetização é com uma bela mão. Como que um estranho irá saber o que está na sua cabeça se não for revelado no papel?", diz.

Por várias razões, algumas escolas particulares também mantiveram-se firmes seguindo a instrução cursiva. Na Arquidiocese de Denver, a caligrafia será ensinada no fim do segundo e início do terceiro ano. Eles enfatizam a importância da prática nos últimos anos para que se continuem desenvolvendo as habilidades, diz a superintendente, irmã Elizabeth Youngs.

"Tem um momento certo no desenvolvimento do cérebro em que você precisa aprender essa habilidade. Eu acredito que a escrita cursiva desenvolve parte do cérebro também. Você pode usar somente o teclado, mas isso não diminui a habilidade necessária da escrita cursiva", diz a freira.
Ela destaca duas razões: o prática promove a coordenação mão-olho que desenvolve o cérebro; e aprender a escrever letra cursiva significa aprender a lê-la também.

Na Escola Internacional Denver Monclair, alguns alunos aprendem a escrever em cursivo desde o jardim de infância  de acordo com os currículos padrões franceses e espanhóis. Parte do motivo reside no bom desenvolvimento da habilidade motora, diz o diretor executivo Adam Sexton, mas há também a questão do espaço.

"Ao ter palavras isoladas conectadas e em seguida ter espaço entre elas, a filosofia (cursiva) está ajudando-os a distinguirem as palavras individuais", disse Sexton. "Eu não sei por que algumas escolas estão suspendendo", completa o diretor.

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