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28 de janeiro de 2011

Por uma lei de responsabilidade socioambiental para a sociedade

A natureza vive sem nós, nós não podemos viver sem ela

Existe a Lei de Responsabilidade Fiscal. Um governante não pode gastar mais do que lhe permite o montante dos impostos recolhidos. Isso melhorou significativamente a gestão pública.
Os desastres socioambientais ocorridos nos últimos tempos nos obrigam a pensar na instauração de uma lei de responsabilidade socioambiental. Já se deu um passo com a consciência da responsabilidade social das empresas. Elas não podem pensar somente em si mesmas e nos lucros de seus acionistas. Pois não vivem num mundo à parte.

Mas que fique claro: responsabilidade social não é o mesmo que obrigação quanto ao pagamento de impostos, encargos e salários; nem pode ser confundida com o dever de as empresas se adequarem às mudanças no campo social, econômico e técnico. A responsabilidade social é o compromisso que as empresas assumem de buscar metas que, a médio e longo prazo, sejam boas para elas e também para o conjunto da sociedade na qual estão inseridas.

Não se trata de fazer para a sociedade (o que seria filantropia), mas com a sociedade, envolvendo-se em projetos elaborados em comum com os municípios, ONGs e outras entidades.


Mas sejamos realistas: num regime neoliberal como o nosso, sempre que os negócios não são rentáveis, diminui ou até desaparece a responsabilidade social. O maior inimigo da responsabilidade social é o capital especulativo. Seu objetivo é maximizar os lucros.

Mas a responsabilidade social é insuficiente, pois ela não inclui o meio ambiente. São poucos os que perceberam a relação do social com o ambiental. Ela é intrínseca. Todas as empresas e cada um de nós vivemos no chão: respiramos, comemos, bebemos, pisamos o solo, estamos expostos às mudanças dos climas, mergulhados na natureza, com sua biodiversidade, somos habitados por bilhões de bactérias e outros micro-organismos. Estamos dentro da natureza e somos parte dela. Ela pode viver sem nós, como o fez por bilhões de anos. Nós não podemos viver sem ela. Portanto, o social sem o ambiental é irreal. Ambos vêm sempre juntos.
Isso que parece óbvio não o é para grande parte das pessoas. Por que excluímos a natureza? Porque somos todos antropocêntricos, quer dizer, pensamos apenas em nós mesmos. A natureza é exterior, posta ao nosso bel-prazer.

Somos irresponsáveis face à natureza quando desmatamos, jogamos agrotóxicos no solo, lançamos na atmosfera bilhões de toneladas de gases de efeito estufa, contaminamos as águas, destruímos a mata ciliar, não respeitamos o declive das montanhas que pode desmoronar e matar pessoas nem observamos o curso dos rios que nas enchentes leva tudo de roldão.

Não interiorizamos os dados que biólogos e astrofísicos nos asseguram: todos possuímos o mesmo alfabeto genético de base, por isso somos todos primos e irmãos e irmãs e formamos assim a comunidade de vida. Cada ser possui valor intrínseco e, por isso, tem direitos. Nossa democracia não pode incluir apenas os seres humanos. Sem os outros membros da comunidade de vida, não somos nada. Eles valem como novos cidadãos que devem ser incorporados na nossa compreensão de democracia, que, então, passa a ser uma democracia socioambiental. A natureza dá-nos sinais. Ela nos chama a atenção para os eventuais riscos que podemos evitar.

Não basta a responsabilidade social, ela deve ser socioambiental. É urgente uma lei de responsabilidade socioambiental imposta a todos os gestores da coisa pública. Só assim, evitaremos tragédias e mortes.

Escrito por:Leonardo Boff

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