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13 de janeiro de 2011

Desejo de muitos, a coragem ganha explicação científica

Cientistas escaneiam cérebros de voluntários em busca da origem dos atos heroicos

NOVA YORK, EUA. A coragem é algo que queremos ter para nós em grandes porções e que adoramos ver em outras pessoas sem qualificação. Entretanto, apesar de estar presente em praticamente toda narrativa sobre a grandeza humana, só recentemente os pesquisadores começaram a estudá-la sistematicamente para tentar definir o que é e o que não é coragem, de onde ela vem, como ela se manifesta no corpo e no cérebro, quais animais podem tê-la e por que a adoramos tanto.

Um novo relatório na revista "Biologia Atual" descreve o caso de uma mulher cuja síndrome congênita rara a deixou completamente sem medo, levantando a questão quanto a ser melhor vencer o medo ou nunca tê-lo sentido. Em outro estudo recente, neurocientistas escanearam os cérebros de voluntários enquanto eles lutavam de forma bem-sucedida para superar seus horrores a cobra, identificando regiões do cérebro que podem ser a chave para nossos atos heroicos de cada dia. Pesquisadores da Holanda estão explorando a coragem entre as crianças, para ver quando a incitação de coragem surge pela primeira vez e o que as crianças querem dizer quando se chamam de valentes.

Virtude. O tema da coragem tem um histórico longo e privilegiado. Platão incluiu a coragem (ou fortaleza) entre as quatro virtudes cardinais ou principais, junto com sabedoria, justiça e moderação (temperança). "Como uma grande virtude, a coragem ajuda a definir a pessoa excelente e não é uma mera característica opcional", escreve George Kateb, teórico político e professor emérito da Universidade Princeton. "Uma das piores acusações no mundo é ser chamado de covarde".

Entretanto, a definição de o que é ser corajoso tem se mostrado uma tarefa tão difícil quanto distinguir os espertos dos tolos. Para Platão e muitas outras autoridades, a coragem é, acima de tudo, uma arte marcial, prontamente exibida em um campo de batalha - o icônico soldado corajoso correndo para a linha de fogo para resgatar um companheiro ferido. Mas Kateb destaca que, se a coragem encontrar sua mais alta expressão na guerra, então, essa característica paradoxalmente se torna uma virtude imoral, enobrecendo a guerra e a carnificina ao insistir que é só na batalha que os homens - e geralmente são apenas os homens - podem descobrir as profundezas da sua dignidade.

Sociedade. Marilynne Robinson, romancista e crítica social, relatou que a coragem é "dependente da definição cultural" e "raramente é expressada, exceto onde há consenso suficiente para apoiá-la". Onde o martírio religioso é celebrado, haverá mártires; onde o protesto social ou político é visto como algo glorioso, haverá "caras pintadas" em cada esquina.


Em um trabalho pioneiro realizado a partir dos anos 1970, Stanley J. Rachman, da Universidade de British Columbia, e outros pesquisadores canadenses estudaram a fisiologia e o comportamento das tropas enquanto os paraquedistas se preparavam para seu primeiro salto de paraquedas.

O trabalho revelou três grupos básicos: os sobrenaturalmente sem medo, que demonstravam sinais suficientes de coração disparado, palmas suadas, aumento da pressão sanguínea e outras respostas associadas ao medo comum e que pulavam sem hesitação; os preocupados, cuja resposta forte ao medo no momento crítico os impediu de saltar; e, finalmente, aqueles que reagiram fisiologicamente como os preocupados, mas que saltaram.

Esses últimos, Rachman considerou corajosos, definindo a coragem como "uma abordagem comportamental apesar da experiência do medo". Através dessa definição expansiva, a coragem fica democratizada e desmilitarizada, propriedade de qualquer excluído que consegue fazer um discurso em uma convenção ou daquele que tem medo de matemática e decide estudar cálculo.

Crianças

Importante é vencer o medo

NOVA YORK. Através de entrevistas com 320 crianças entre 8 e 13 anos, Peter Muris, da Universidade Erasmo Roterdã, e alguns colegas da instituição de ensino holandesa descobriram que as crianças consideram a coragem como a superação do medo. Mais de 70% das crianças participantes do estudo alegaram que já haviam realizado um ou mais atos de bravura em suas vidas, incluindo o resgate de um irmãozinho que tinha caído na piscina, o salvamento de um gato preso na árvore, pedalar na floresta à noite ou roubar dinheiro da bolsa da mãe apesar de o motivo não ser nobre, isso também requer coragem e superação do medo.

Joel Berger, biólogo da Wildlife Consevation Society e da Universidade de Montana, também distingue os animais que se comportam com bravura por falta de experiência como os beija-flores, que não são acostumados aos humanos e chegam à beira do copo de uma pessoa para dar um gole daqueles que têm ciência do perigo, mas continuam assim mesmo.

Ele citou a época em que ele e seus colegas haviam imobilizado um bisão jovem em preparação para colher amostras de sangue, e, quando eles voltaram, um bisão macho adulto de um grupo diferente estava de pé tentando proteger os mais novos, recusando-se a deixar os cientistas se aproximarem. "Ele sabia que poderia ser atacado por nós e nem havia parentesco genético envolvido ali", disse Berger. "A coragem pode ser uma construção humana, mas eu chamaria aquilo de um ato corajoso, até mesmo heroico".

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