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10 de dezembro de 2010

A miniatura de um novo modo de ser para a sustentabilidade

Há, hoje, na cultura mundial muita desesperança e perplexidade. Não sabemos para onde estamos rumando. O voo é cego. Dói a falta de alternativa ao modelo vigente de grande acumulação e acelerado consumo, à custa da depredação da natureza e da geração de injustiças sociais em nível mundial.

Com as "externalidades" surgidas (aquecimento global, escassez de recursos, desequilíbrio da Terra), a sensação predominante é que, assim como está, o mundo não pode continuar. Temos que mudar. Por isso, surgem novas visões e práticas que nos devolvem a esperança de que outro mundo é possível e necessário. A nova centralidade gira ao redor do cuidado da vida, da salvaguarda da humanidade e da proteção do planeta. O que vai nascer será uma biocivilização ou uma Terra da Boa Esperança (Ignacy Sachs).

Eis, que em nosso país, encontramos uma miniatura do desejo coletivo, uma pequena antecipação daquilo que deverá ser dominante na humanidade: o projeto "Cultivando Água Boa", da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná.

Ali, num acordo entre Brasil e Paraguai, construiu-se a maior hidrelétrica do mundo. Qual foi o "insight" de seus diretores Jorge Samek e Nelton Friedrich já nos inícios de sua administração, em 2003? Que a água não se destina apenas para produzir energia elétrica, mas, também, para gerar todo tipo de energia necessária aos humanos.

Foi então que se modelou o "Cultivando Água Boa", que envolve os 29 municípios lindeiros, nos quais vivem cerca de 1 milhão de pessoas. Trata-se de um projeto altamente complexo, resultando numa verdadeira revolução cultural, pois esse é o propósito dos milhares que o implementam. É exatamente isso que precisamos: de um novo ensaio civilizatório, testado numa miniatura, que seja viável dentro das condições da Terra, em processo de aquecimento e de exaustão de seus recursos. O motto diz tudo: "um novo modo de ser para a sustentabilidade".

A sustentabilidade foi sequestrada pelo projeto do capital, que a esvaziou para impedir que significasse um paradigma alternativo a ele, já que é intrinsecamente insustentável. Libertada desse cativeiro, ela adquire valor central de um novo arranjo civilizatório.

Em Itaipu, conseguiu-se instaurar essa equação feliz. Começaram com a sensibilização das comunidades, convocando notáveis do pensamento ecológico, como F. Capra, Enrique Leff (Pnuma latino-americano), Marcos Sorrentino, Carlos e Paulo Nobre, dentre outros. Eu mesmo acompanho o projeto desde o seu início. Definiram o espaço não pelos limites dos municípios, mas pelos naturais das hidrobacias. Envolveram as comunidades, criando comitês gestores de cada bacia, legalizados pelas prefeituras. Sabiamente se deram conta de que a educação ambiental representa o motor da mudança de ser, de sentir, de produzir e de consumir.

Não é isso a inauguração de uma revolução cultural? Formaram centenas de agentes ambientais, atingindo milhares de pessoas. Uma nova geração está surgindo que busca um modo sustentável de viver.

Quero detalhar o vasto campo de atividades do projeto, que vai desde o aproveitamento dos dejetos sólidos até a inovação tecnológica com o carro elétrico, a pesquisa sobre o hidrogênio, a criação do Centro de Saberes e Cuidados Ambientais e da Universidade Federal da Integração Latino-Americana.

Quem acompanha aquele projeto sai com esta certeza: a humanidade é resgatável, ela tem jeito, é possível, como dizia Fernando Pessoa, criar um mundo que ainda não foi ensaiado.

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