Maioria dos jovens se expõe na internet sem pensar nos riscos

Tássia, 17, acessa diariamente a internet e hoje toma alguns cuidados

Ambiente virtual é um "mundo sem fronteiras", mas também traz perigos

Na era digital, não basta ter um currículo atraente em mãos para provar que se é um profissional competente. É preciso ter um bom histórico nas redes sociais. O problema é que os jovens ainda não têm essa consciência. Foi o que mostrou uma pesquisa feita pelo Portal Brasil. Dos 10,5 mil adolescentes de 13 a 17 anos de 75 escolas da rede particular entrevistados em todo o país, 61% admitiram que não se preocupam com avaliações futuras sobre o conteúdo que postam na rede.

A coordenadora do programa de carreiras do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Jaqueline Silveira Mascarenhas, explica que no Brasil está se tornando cada vez mais comum o uso da internet para se conhecer o histórico de quem concorre a uma vaga de emprego. "É um espaço onde as pessoas colocam suas coisas pessoais, mas que fala delas", afirma.

O professor do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Wagner Meira Júnior explica que o internauta está exposto a três grandes riscos. O primeiro é o tecnológico - vírus que danificam o equipamento. Mais grave ainda, diz, é quando se cai em armadilhas que permitem a captura de senhas ou documentos.

O segundo grande risco, segundo Meira Júnior, é o moral. Quem acessa a rede, explica, fica exposto a conteúdos inapropriados, que incluem drogas, sexo e terrorismo, dentre outros. E o terceiro nível seria o físico, quando o internauta sai do mundo virtual para o real. Entram nesse caso, como exemplo, os encontros marcados com "amigos" feitos na rede.

Meira Júnior alerta, no entanto, que os adultos também estão expostos. "As pessoas, de um modo geral, pensam que tudo é brincadeira na internet. E se empolgam porque ela é um mundo sem fronteiras. Tudo o que existe de ilícito no mundo real está lá, acessível a todos, e é esse o maior risco", afirma.

A pesquisa do Portal Brasil mostrou que 60% dos jovens usaram web para fazer amigos e 38% levaram os amigos virtuais para a vida real, sendo que 25% já ficaram com alguém que conheceram na rede. Dentre os entrevistados, 17% tiveram problemas com o namoro, 11% na escola e 19% com amigos por causa do que postaram.

Há um ano, a estudante Tássia Margarida Vieira da Silveira, 17, descobriu que havia outros seis Orkuts - site de relacionamento - com o nome e fotos dela. "Na hora, fiquei assustada", disse. O susto fez com que ela parasse de colocar dados pessoais na internet. "Muitos jovens não têm consciência dos perigos que a internet representa. Não acho seguro usar salas de bate-papo para conversar com pessoas que nunca vi na vida", afirma.

A estudante Raíssa Fernandes Cunha de Oliveira, 17, apesar de admitir que existem riscos, mantém relacionamento pela rede com vários desconhecidos. "Tenho amigos em São Paulo, no Rio de Janeiro. Geralmente, são pessoas que têm algum gosto em comum", conta.

O ideal, segundo o pedagogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Luiz Carlos Castelo Branco Rena, é que os pais não proíbam o acesso dos filhos à internet, mas os alertem sobre os riscos. "Proibir o acesso à rede é chover no molhado, não dialoga com o nosso tempo. Acredito muito mais em municiar a garotada com ferramentas de críticas sobre o que vivem na rede", disse.

Um terço já sofreu violência

A pesquisa feita pelo Portal Brasil mostrou ainda que um terço dos 10,5 mil entrevistados já foi vítima de alguma violência na internet - 31%. Outros 11% sofreram preconceito e 15% já se sentiram mal em função de alguma agressão sofrida.

Segundo a promotora de Justiça de Combate ao Crime Cibernético, Vanessa Fusco, os crimes mais comuns ocorridos na rede são estelionato, crimes contra a honra ( difamação) e os relacionados à pornografia infantil. "A maioria dos criminosos que agem na internet está associada a quadrilhas que atuam também em lavagem de dinheiro. É preciso muito cuidado e, caso seja vítima de algum criminoso, denunciar imediatamente", disse.

fonte:Otempo