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15 de outubro de 2010

A vivência dos valores do feminino na política atual

O masculino na mulher exprime o outro polo do ser humano

A reflexão antropológica tem mostrado que masculino-feminino não são entidades autônomas, mas princípios que continuamente constroem o humano como homem e mulher. Estes são resultado da ação desses princípios anteriores e subjacentes que se realizam em densidades diferentes em cada um deles.

O feminino no homem e na mulher é aquele momento de integralidade, de profundidade, de capacidade de pensar com o próprio corpo, de decifrar mensagens escondidas sob sinais e símbolos, de interioridade, de sentimento de pertença a um todo, de cooperação, de compaixão, de receptividade, de poder gerador e nutridor e de espiritualidade.

O masculino na mulher e no homem exprime o outro polo do ser humano, de razão, objetividade, ordenação, poder, até de agressividade e materialidade. Pertence ao masculino na mulher e no homem o movimento para a transformação, para o trabalho, para o uso da força, para a clareza que distingue, separa e ordena. Pertence ao feminino no homem e na mulher a capacidade de repouso, de cuidado, de conservação, de amor incondicional, de perceber o outro lado das coisas, de cultivar o espaço do mistério que desafia sempre a curiosidade e a vontade de conhecer.

Não se diz que o homem realiza tudo o que comporta o masculino e a mulher tudo o que expressa o feminino. Trata-se de princípios presentes em cada um, estruturadores da identidade pessoal do homem e da mulher.

Continua sendo o drama da cultura patriarcal o fato de ter usurpado o princípio masculino somente para o homem, fazendo com que ele se julgasse o único detentor de racionalidade, de mando, de construção da sociedade, relegando para a privacidade e para tarefas de dependência a mulher, considerada um apêndice, objeto de adorno e de satisfação. Ao não integrar o feminino em si, se enrijeceu e se desumanizou. Por outra parte, impedindo que a mulher realizasse o seu masculino, fragilizou-a e lhe fez surgir um sentimento de implenitude. Ambos se depauperaram e mutilaram a construção da figura do ser humano uno e diverso, recíproco e igualitário.

A superação desse obstáculo cultural é a primeira condição para um relacionamento de gênero mais integrador e justo para cada uma das partes.

O movimento feminista colocou em xeque o projeto do patriarcado. Inaugurou relações mais simétricas e cooperativas. Tais avanços deixam entrever os albores de uma virada. Esboça-se um novo tipo de manifestação do feminino e do masculino em termos de parceria, colaboração e solidariedade nas quais homens e mulheres se acolhem em suas diferenças no horizonte de uma profunda igualdade pessoal, de origem e de destino, de tarefa e de compromisso na construção de mais benevolência para com a vida e a Terra e de formas sociais mais participativas e solidárias.

Mas hoje vivemos uma situação singular. Como espécie, estamos num novo limiar. O aquecimento global, a exaustão dos bens naturais, a escassez de água potável e o estresse do sistema vida e do sistema Terra nos colocam esse dilema: ou nos parimos como outra espécie humana, com outra consciência e responsabilidade, ou iremos ao encontro da escuridão. O Brasil, dada a sua situação ecogeográfica, deve assumir seu lugar na construção do novo equilíbrio da Terra ou corremos risco de um caminho sem retorno.

É neste momento que se exige como nunca antes na história a vivência dos valores do feminino, da anima: dar centralidade à vida, ao cuidado, à cooperação, à compaixão e aos valores humanos universais.

Fonte:Otempo

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