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8 de outubro de 2010

A solução da da pela agroenergia serve à vida ou ao capital?

Ela é vista como uma Arca de Noé salvadora do sistema

A agroenergia é saudada, hoje, por causa da crescente exaustão da matriz energética fóssil. Ela é vista como uma Arca de Noé salvadora do atual sistema.

Naturalmente, pouco importa seu tipo, ela é imprescindível, particularmente é o motor da economia de mercado para todas as civilizações.

Quem quiser ter um apanhado do tema, numa perspectiva global, passando pelos países produtores, os principais agrocombustíveis e a bioenergia, deve ler o livro de François Houtart, "A Agroenergia: Solução para o Clima ou Saída da Crise para o Capital?" (Vozes, 2010). Sociólogo, belga, conhecido no Terceiro Mundo por ter criado, em Louvain, um centro tricontinental, onde forma quadros do Grande Sul para atuarem em seus países, é um dos fundadores e animadores do Fórum Social Mundial.

O uso de energias renováveis obedece a dois imperativos: o primeiro, a curta longevidade do petróleo, cerca de 40 anos, do gás, 60, e do carvão, 200; o segundo é a salvaguarda do meio ambiente e o controle do aquecimento global, que pode pôr em risco a civilização.

Mesmo assim, um substituto à energia fóssil não é, a médio prazo, alcançável. A agroenergia representará, em 2012, apenas 2% do consumo global, podendo chegar a 7% em 2030, supondo a utilização do conjunto das terras agricultáveis da Austrália, Nova Zelândia, Japão e da Coreia do Sul. Se forem utilizadas todas as superfícies produtivas da Terra, alcançariam o equivalente do petróleo - 1,4 bilhão de barris/dia. Ora, as demandas atuais se elevam a 3,5 bilhões, tendendo a subir. Aqui emerge um impasse sistêmico. Tal fato obrigaria pensar num outro modo de produção e consumo.

Se houvesse sentido de futuro coletivo, compaixão para com a humanidade, grande parte dela submetida à fome, à escassez de água potável e a todo tipo de enfermidades, e predominasse o cuidado com a Mãe-Terra, contra a qual movemos guerra total, refletiríamos seriamente em como encontrar um modo de habitar o planeta com mais sinergia com a natureza, inclusão de todos e benevolência para com a comunidade de vida. Agora seria a grande ocasião. Mas nos falta sabedoria e ainda acreditamos nas possibilidades ilusórias do desastroso sistema que nos levou ao impasse atual.

O drama que envolve as energias alternativas reside no fato de que elas foram sequestradas pela lógica do capital. Este visa ao lucro crescente e nunca toma em consideração as "externalidades", como a degradação da natureza, a poluição do ar, o aquecimento global, o crescimento da pobreza. Por isso, não nos enganemos com as empresas que alardeiam o caráter "verde" de sua produção. O "verde" vale desde que não afete os lucros nem diminua a capacidade de concorrência.

A busca de energias alternativas limpas não intenciona forjar formas de salvar o gênero humano e suas capacidades vitais, mas visa preservar a sorte do sistema do capital.

Ora, esse sistema é capaz de produzir bens e serviços sem limite, mas à custa da natureza e da criação de perversas desigualdades sociais. Hoje, ele está encostando nos limites da Terra, cujos recursos estão se extenuando. Está se realizando a profecia de Marx, segundo a qual iria destruir as duas fontes de sua riqueza: a natureza e o trabalho. Estamos assistindo ao cumprimento dessa sinistra profecia.

A agroenergia deve reforçar a vida, que demanda outro tipo de produção e de relação não destrutiva com a natureza. O tempo para isso é urgente para não chegarmos atrasados.

Escrito por:Leonardo Boff

fonte:Otempo

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