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1 de agosto de 2010

Jovens que se sentem no direito de tudo

Pesquisas apoiam a tese da Geração N, de que elogios em excesso fazem mal

Um artigo publicado recentemente pelo ensaísta norte-americano Rob Asghar lançou uma nova dúvida para os pais: elogios em excesso podem fazer mal? Segundo Asghar, sim. As crianças se tornarão jovens tiranos, exigentes e com "senso de merecimento" exagerado. Tanto, que ele os batizou de Geração N - de narcisista.

Como argumento para sua teoria, Asghar utilizou uma pesquisa desenvolvida pela San Diego State University e pela University of South Alabama, que concluiu que, nos últimos 15 anos, aumentou o número de jovens norte-americanos que se sentem no direito de tudo. O estudo teria identificado traços de "auto-respeito exagerado" e um "infundado senso de merecimento".
Para Asghar, a origem da Geração N estaria na insegurança dos pais que, culpados por passarem pouco tempo com a prole, estariam mimando demais seus rebentos. "Como temem que os filhos não gostem deles, cedem a qualquer pedido e celebram toda e qualquer ‘conquista’, até uma formatura de pré-escola", aponta Asghar em seu artigo.

Mas será que elogiar pode mesmo ser prejudicial à saúde mental? Para Carla Couto, psicóloga, concorda que estímulo em excesso não é bom. "O elogio exagerado é tão prejudicial quanto o abandono. A criança passa a se achar autossuficiente, não consegue sair da fase egocêntrica. O egocentrismo é natural das crianças, mas isso ser incentivado pelos pais é muito ruim.

Ser educado é aprender a dividir, a compartilhar. O elogio tem que ser coerente para a criança não viver num mundo fantástico", diz.

Para a psicóloga, existem dois motivos que levam os pais a paparicarem os filhos de maneira exagerada. O primeiro é o fato de muitos não conseguirem ver defeitos nos filhos. O outro seria a tentativa de compensar a ausência.

"Como os pais trabalham o dia inteiro, a figura materna e paterna está desaparecendo. Eles têm uma postura de ‘pais visitantes’: vão ao cinema, ao parque, ao teatro e, por cansaço ou culpa, quando estão juntos só querem agradar. É como se a criança fosse a filha de pais separados.

Ela fica com a babá - que não pode exercer tanto o limite porque não é o papel dela - ou com a avó, que tem o papel da curtição, não da educação", diz Carla Couto.

Edmeire Cristina Pereira é mãe de Mariana, 14, e Amanda, de 1 ano. Quando a filha mais velha tinha 7 anos, ela se separou do marido e teve de enfrentar uma fase de rebeldia da filha. Mesmo consciente de que aquele era um momento delicado, ela não deixou de ser firme.
"Foi uma época em que ela me deu um pouco de trabalho, mas é importante falar não. A criança pede o limite e mesmo que a gente esteja cansada de um dia inteiro de trabalho e que seja mais fácil dar tudo para a criança pede, é preciso saber dizer não", afirma.

Edmeire acredita que o elogio com equilíbrio é importante para o desenvolvimento. "Quando merece tem que elogiar, sim, ressaltar as qualidades sempre que puder, dar carinho. Quando você elogia a criança isso é um incentivo a mais para ela", defende Adulto imediatista.

Carla Couto concorda que a criança seja reconhecida em suas conquistas. Também acha positivo que seu desejo seja ouvido e satisfeito, desde que não invada o limite do outro. "A criança tem que saber ouvir não e ter a noção de que nem tudo vai acontecer como ela quer. O trabalho de hoje vai minimizar a dor de cabeça futuramente. A plasticidade do cérebro da criança é muito maior e facilita o aprendizado de qualquer coisa, inclusive o que é certo e errado", diz.

Para a psicóloga, a combinação de reconhecimento exagerado com falta de limites pode gerar um adulto com grande dificuldade de viver em sociedade, de seguir as regras sociais e se relacionar com o outro. Como orientadora de carreira, Carla Couto afirma que já atendeu clientes com traços da Geração N.

"Como ele tem certeza que é ‘ótimo’, como nunca errou, esse adulto não admite crítica. Outro aspecto importante é a insatisfação. Nenhum emprego está bom porque ele já quer começar sendo ‘grande’. É um adulto imediatista, tudo tem que ser agora", descreve a psicóloga.

fonte:Otempo

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