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11 de junho de 2010

A busca da espiritualidade para a construção da paz

As religiões costumam responder, mas não detêm o monopólio da espiritualidade – um dado antropológico. Emerge quando nos sentimos parte do todo

Todos os fatores e práticas nos distintos setores da vida pessoal e social devem contribuir para a construção da paz tão ansiada nos dias atuais. Os esforços seriam incompletos se não incluíssemos a perspectiva da espiritualidade.

A espiritualidade é aquela dimensão que responde pelas questões que sempre acompanham nossas indagações. De onde viemos? Para onde vamos? Qual o sentido do universo? Que podemos esperar para além desta vida?

As religiões costumam responder a tais indagações. Mas não detêm o monopólio da espiritualidade. Esta é um dado antropológico como é a vontade, o poder e a libido. Emerge quando nos sentimos parte de um todo maior. É mais que a razão, é um sentimento de que uma energia amorosa origina e sustenta o universo e cada um de nós.

No processo evolutivo, irrompeu, um dia, a consciência humana. Há um momento nessa consciência em que ela se dá conta de que as coisas não estão jogadas aleatoriamente ou justapostas, ao léu. Ela intui que um "fio condutor" as perpassa, liga e religa.

As estrelas que nos fascinam nas noites de verão, a floresta amazônica na sua majestade e imensidão, os grandes rios como o Amazonas, chamado de rio-mar, a profusão de vida nas campinas, o vozerio sinfônico dos pássaros na mata, a multiplicidade das culturas e dos rostos humanos, a misteriosidade dos olhos de um recém-nascido, o milagre do amor entre duas pessoas apaixonadas, tudo isso nos revela quão diverso e uno é o nosso mundo universo.

A esse "fio condutor" os seres humanos chamaram por mil nomes, de Tao, de Shiva, de Alá, de Javé, de Olorum e de outros mais. Tudo se resume na palavra Deus. Quando se pronuncia com reverência esse nome, algo se move dentro do cérebro e do coração. Neurólogos e neurolinguísticas identificaram o "ponto Deus" no cérebro. É aquele ponto que faz subir a frequência hertz dos neurônios como se tivesse recebido um impulso. Isso significa que, no processo evolutivo, surgiu um órgão interior pelo qual o ser humano capta a presença de Deus dentro do universo. Evidentemente, Deus não está apenas nesse ponto do cérebro, mas em toda a vida e no inteiro universo. Entretanto, é a partir daquele ponto que nos habilitamos a captá-lo. Mais ainda. Somos capazes de dialogar com Ele, de elevar-lhe nossos súplicas, de render-lhe homenagem e de agradecer-lhe pelo dom da existência. Outras vezes, nada dizemos, apenas O sentimos silenciosos e contemplativos.

É então que nosso coração se dilata às dimensões do universo e nos sentimos grandes como Deus ou percebemos que Deus se faz pequeno como nós. Trata-se de uma experiência de não-dualidade, de imersão no mistério sem nome, da fusão da amada com o Amado.

Espiritualidade não é apenas saber, mas sentir tais dimensões do humano. O efeito é uma profunda e suave paz.

Dessa paz espiritual, a humanidade precisa com urgência. Ela é a fonte que alimenta a paz cotidiana nas suas formas. Ela irrompe de dentro, irradia em todas as direções, qualifica as relações e toca o coração das pessoas de boa vontade. É feita de reverência, respeito, tolerância, compreensão das limitações dos outros e da acolhida do mistério do mundo. Alimenta o amor, o cuidado, a vontade de acolher e de ser acolhido, de compreender e de ser compreendido, de perdoar e de ser perdoado.

Num mundo como o nosso, nada há de mais sensato do que ancorar nossa busca nessa dimensão espiritual.

Então a paz poderá florescer na imensa comunidade de vida, nas relações entre culturas e povos e aquietará o coração, cansado de tanto buscar.

Escrito por:Leonardo Boff

fonte:Otempo

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