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28 de maio de 2010

Com o Irã, Lula inaugura

Não se pode isolá-lo, importa trazê-lo à negociação

O acordo alcançado por Lula e pelo primeiro-ministro turco com o Irã a respeito da produção de urânio enriquecido para fins pacíficos possui uma singularidade. Foi alcançado mediante o diálogo, a mútua confiança que nasce do olho no olho e a negociação na lógica do ganha-ganha. Nada de intimidações, de imposições, de ameaças, de pressões e da satanização do outro.

Essa era e continua sendo a estratégia das potências imperiais, que não se dão conta de que o mundo mudou. Estão encalacradas no velho paradigma do big stick, da negociação com o porrete na mão ou da pura e simples intervenção para a qual tudo vale, até a mentira deslavada, como no caso do Iraque.

Essa estratégia nunca deu fruto nenhum em nenhum lugar. Os Estados Unidos estão perdendo todas as guerras porque ninguém vence um povo disposto a dar a vida contra um inimigo armado até os dentes, mas exposto à vergonha e à irrisão mundial. O que conseguiram foi alimentar a vingança, fermento de todo o terrorismo.

A maior ameaça para a estabilidade mundial hoje são os EUA, pois a ilusão de serem "povo eleito" faz com que se sintam no direito de intervir em todo o mundo. Propõem os direitos humanos quando os violam, querem impor a democracia quando criam uma farsa, defendem o livre mercado para suas multinacionais para que livremente possam explorar as riquezas dos países.

A diplomacia de Lula se contrapõe diretamente àquela do Conselho de Segurança e a de Barack Obama. A de Lula olha para a frente e se adequa ao novo. A de Barack Obama olha para trás e quer reproduzir o velho.

O paradigma velho supõe que haja uma nação hegemônica e imperial, no caso o EUA. Esta se rege pelo paradigma do inimigo, bem na linha do teórico da filosofia política que fundamentou regimes como o nazismo, Carl Schmitt(+1985). Em seu livro "O Conceito do Político", diz: "A existência política de um povo depende de sua capacidade de definir quem é amigo e quem é inimigo... o inimigo deve ser combatido e psicologicamente deve ser desqualificado como mau e feio". Bush não fez exatamente isso, chamando os países de onde vinham os terroristas de "países canalhas", contra quem se deve fazer uma "guerra infinita"? Essa argumentação é sistêmica e funciona ainda hoje na cabeça dos dirigentes norte-americanos. Políticas inspiradas nesse paradigma ultrapassado podem levar a cenários dramáticos, com o sério risco de destruir o projeto planetário humano. Esse paradigma é belicista, reducionista e míope, pois não percebe as mudanças que estão ocorrendo na história e que exigem estratégias de cooperação visando proteger a Terra e a vida.

O paradigma novo, representado por Lula, assume a singularidade do atual momento histórico. Mudou nossa percepção de fundo: somos todos interdependentes, habitando juntos na mesma casa comum, a Terra. Ninguém tem um futuro particular e próprio. Surge um destino comum globalizado: ou cuidamos da humanidade para que não se bifurque entre os que comem e os que não comem e protegemos o planeta para que não seja dizimado pelo aquecimento global ou não teremos futuro algum. Estamos vinculados definitivamente uns aos outros.

Lula agiu coerentemente: não se pode isolar e castigar o Irã. Importa trazê-lo à mesa de negociação, com confiança e sem preconceitos. Essa atitude de respeito trará bons frutos. E é a única sensata nessa nova fase da história humana. Lula aponta e inaugura o futuro da nova diplomacia, a única que nos garantirá a paz.

Escrito por:LEONARDO BOFF
Teólogo - lboff@leonardoboff.com

fonte:Otempo

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