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12 de fevereiro de 2010

COP-15 foi um fracasso, mas "amanhã faremos melhor"

Se não mudarmos o modo de ver e agir, pereceremos

Disse Jesus nos evangelhos: "Se não vos converterdes, todos vós perecereis". Quis dizer: "Se não mudardes de modo de ver e de agir, todos vós perecereis". Nunca essas palavras me pareceram tão verdadeiras como quando assisti à "Crônica de Copenhague", um documentário francês num canal fechado no Brasil.

Na COP-15 em Copenhague em dezembro último, se reuniram os representantes das 192 nações para decidir a redução das taxas de gases de efeito estufa, produtores do aquecimento global. Todos foram para lá com a vontade de fazer alguma coisa. Mas as negociações, depois de uma semana de debates acirradíssimos, chegaram a um ponto morto e nada se decidiu. Quais as causas desse impasse que provocou decepção e raiva no mundo inteiro?

Creio que não havia suficiente consciência coletiva das ameaças que pesam sobre o sistema Terra e sobre o destino da vida. É como se os negociadores fossem informados de que um tal de Titanic estaria afundando sem se darem conta de que se tratava do navio sobre o qual estavam, a Terra.

Em segundo lugar, o foco não estava claro: impedir que o termômetro da Terra suba para mais de dois graus Celsius, porque então conheceremos a tribulação da desolação climática. Para evitar tal tragédia, urge reduzir a emissão de gases. A preocupação não é garantir a continuidade do status quo, mas dar centralidade ao sistema Terra, à vida em geral e à vida humana em particular.

Em terceiro lugar, faltou visão coletiva. Muitos negociadores disseram representar os interesses de seu país. Errado. O que está em jogo são os interesses coletivos e planetários. Isso de defender os interesses do país é próprio dos negociadores da Organização Mundial do Comércio, que se rege pela concorrência e não pela cooperação. Predominando a mentalidade de negócios, funciona a seguinte lógica: não há confiança, pois todos desconfiam de todos; todos jogam na defensiva; não colocam as cartas sobre a mesa por temerem a crítica e a rejeição; todos se reservam o direito de decidir só no último momento, como num jogo de pôquer. Os grandes jogadores se omitiram: a China observava, os Estados Unidos se calavam, a União Europeia ficou isolada e os africanos, as grandes vítimas, sequer foram tomados em consideração. O Brasil, no fim, mostrou coragem com as palavras do presidente Lula.

Por último, o fracasso de Copenhague - bem o disse Lord Stern - se deveu à falta de vontade de vivermos juntos e de pensarmos coletivamente. Ora, tais coisas são heresias para o espírito capitalista em seu individualismo. Este não está interessado em viver junto, pois a sociedade para ele não passa de um conjunto de indivíduos, disputando furiosamente a maior fatia do bolo chamado Terra.

Jesus tinha razão: se não nos convertermos, vale dizer, se não mudarmos esse tipo de pensamento e de prática, na linha da cooperação universal, jamais chegaremos a um consenso salvador. E assim iremos ao encontro dos dois graus Celsius de aquecimento com suas dramáticas consequências.

A valente negociadora francesa Laurence Tubiana, no balanço final, disse resignadamente: "Os peixes grandes sempre comem os menores e os cínicos sempre ganham a partida, pois essa é a lógica da história". Esse derrotismo não podemos aceitar. O ser humano é resiliente, isto é, pode aprender de seus erros e, na urgência, pode mudar. Fico com o paciente chefe dos negociadores, Michael Cutajar, que no final de um fracasso disse: "Amanhã faremos melhor".

Duke




Escrito por:Leonardo Boff
Teólogo - iboff@leonardoboff.com.br


fonte:Otempo

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