
O presidente Lula, em sua corajosa intervenção, foi o único a dizer a verdade: "Faltou-nos inteligência" porque os poderosos preferiram barganhar vantagens a salvar a vida da Terra e os seres humanos. Obama não levou nada de novo. Foi imperial, ao impor minuciosas condições aos pobres.
Duas lições se podem tirar do fracasso em Copenhague: a primeira é a consciência coletiva de que o aquecimento é irreversível: todos somos responsáveis, mas principalmente os países ricos. E agora somos também responsáveis, cada um em sua medida, pelo controle do aquecimento para que não seja catastrófico. Depois de Copenhague mudou a consciência coletiva da humanidade. Se irrompeu essa consciência, por que não se chegou a nenhum consenso?
Aqui surge a segunda lição que importa tirar: o grande vilão é o modo de produção capitalista, mundialmente articulado, com sua cultura consumista. Enquanto for mantido, será impossível um consenso que coloque no centro a vida, a humanidade e a Terra. Para ele, o que conta é o lucro, a acumulação privada e o aumento de poder de competição. Ele distorceu a natureza da economia como técnica e arte de produção dos bens necessários à vida. Ele a transformou numa brutal técnica de criação de riqueza por si mesma sem qualquer outra consideração. Essa riqueza nem sequer é para ser desfrutada, mas para produzir mais riqueza ainda, numa lógica obsessiva e sem freios.
Por isso, ecologia e capitalismo se negam frontalmente. Não há acordo possível. O discurso ecológico procura o equilíbrio de todos os fatores, a sinergia com a natureza e o espírito de cooperação. O capitalismo rompe com o equilíbrio ao sobrepor-se à natureza, estabelece uma competição feroz entre todos e pretende tirar tudo da Terra, até extenuá-la. Se assume o discurso ecológico é para ter mais ganhos.
Ademais, o capitalismo é incompatível com a vida. A vida pede cuidado e cooperação. O capitalismo sacrifica vidas, cria trabalhadores escravos "pro tempore" e pratica trabalho infantil.
Os negociadores e os líderes políticos em Copenhague ficaram reféns desse sistema que barganha, quer lucros, não hesita em pôr em risco o futuro da vida. Sua tendência é autossuicidária. Que acordo poderá haver entre o lobo e o cordeiro, entre a natureza que grita por respeito e aquele que a devasta?
Por isso, não surpreende o fracasso da COP 15. O único que ergueu a voz, solitária, como um "louco" numa sociedade de "sábios", foi o presidente Evo Morales, da Bolívia: "Ou superamos o capitalismo ou ele destruirá a Mãe Terra".
Gostemos ou não, essa é a pura verdade. Copenhague tirou a máscara do capitalismo, incapaz de forjar consensos porque pouco lhe importam a vida e a Terra, mas antes as vantagens e os lucros materiais.

Leonardo Boff
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