Related Posts with Thumbnails

5 de dezembro de 2009

Há psicopatas ao seu lado

personagem Isabel, da novela "Viver a Vida", da Rede Globo, pode ser considerada uma psicopata. A avaliação é da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, que estará em Belo Horizonte no próximo dia 8 para falar sobre seu livro "Mentes Perigosas - o Psicopata Mora ao Lado".

Os psicopatas podem ser considerados portadores de doença mental? Não. A psicopatia é um transtorno de personalidade. É uma maneira de ser e de existir. O psicopata nasce assim. É diferente do portador de doenças mentais como psicose, esquizofrenia, depressão e pânico, em que a pessoa nasce com uma tendência genética que pode se manifestar ao longo da vida, ou não.

Como são os psicopatas? Como podemos identificar um? São pessoas frias e calculistas, mentirosas contumazes, egocêntricas, megalômanas, parasitas, manipuladoras, inescrupulosas, irresponsáveis, transgressoras de regras sociais, algumas são violentas e todos os psicopatas só visam o interesse próprio. O que eles mais querem é poder, status e diversão. Os psicopatas correspondem a 4% da população mundial, mas somente 1% está no grupo dos considerados psicopatas graves, capazes de matar. São aquelas pessoas que cometem crimes em série, chamados pela imprensa de "serial killers" (matadores em série). Eles sempre cometem os mesmos atos porque não são capazes de aprender com os próprios erros, pois têm muito desenvolvida a inteligência racional, mas são medíocres em inteligência emocional.

E os outros psicopatas, como eles agem? São violentos também? De que forma? Os demais, considerados psicopatas leves, são muito comuns entre nós. São os políticos que desviam o dinheiro da merenda escolar, ou de remédios e vacinas essenciais à vida da população, são os golpistas da Previdência Social, que tiram o dinheiro de pessoas idosas e pobres, enfim, eles são mais comuns do que imaginamos. Eles fazem isso porque não conseguem se colocar no lugar do outro. Não conseguem sentir empatia com as pessoas, não conseguem imaginar o sofrimento do outro, nem de seus próprios familiares.

Então, se eles forem pegos nesses crimes podem ser considerados doentes ou incapazes e ficarem livres de punição? De jeito nenhum. Eles sabem exatamente o que estão fazendo. Sabem diferenciar muito bem o que é certo do que é errado. Seriam capazes de não fazer se quisessem. Mas preferem infringir a lei pois isso lhes traz mais prazer, poder e diversão. E não sentem culpa, pois não conseguem sentir pena de ninguém. Se choram, é de raiva por não terem conseguido o que planejavam.

Em seu livro, você trata do caso do assassinato da atriz Daniella Perez, filha da novelista Glória Perez, por Guilherme de Pádua Thomaz. Ele tem ou teve um perfil psicopata? Em nenhum momento, Guilherme mostrou qualquer sentimento de arrependimento, de culpa ou de consideração para com a vítima ou por alguém de sua família. Ao contrário, ele aproveitou de todos os espaços obtidos na imprensa para se enaltecer, num gesto explícito de exibicionismo e vaidade. Ao longo do julgamento, Guilherme foi irônico e chegou a interromper, corrigir e até chamar a atenção do juiz. Familiares e amigos se chocaram com a postura do réu durante o depoimento. Ele fez como que se representasse, mudava o tom de voz para "interpretar" as vozes de Daniella e de Paula, sua mulher, que também foi condenada pelo assassinato. Todos os presentes ficaram em silêncio, estarrecidos quando ele "imitou" como Daniella teria caído ao ser vitimada. Como um traço marcante da personalidade de Guilherme, destaco sua frase dita no julgamento, que foi reproduzida nos jornais da época: "O seio esquerdo de Daniella ficou desnudo. Aquilo me chocou. Cobri o seio e ajeitei os braços para que não ficasse tão feia, pois sabia que ela seria fotografada depois".

Então todo psicopata é um criminoso? Não. Temos muitos psicopatas vivendo ao nosso lado no cotidiano. A grande maioria está entre nós. São por exemplo aquelas pessoas que têm algum cargo de liderança ou poder, pisam nos subalternos e puxam o saco dos chefes, fingindo sempre. Se observarmos a vida dessa pessoa como um todo, ela faz isso em todas as situações. Todos aqueles de quem ela não depende para subir socialmente ou são mais fracos, ela pisa e humilha, e os que lhes são superiores, ela bajula, sempre dissimulando. Mas tudo enquanto seu interesse mandar. As crianças que maltratam animais ou irmãos e colegas mais novos e indefesos também podem indicar serem psicopatas. Ao contrário, a criança que maltratou um animal e se arrepende, sofre por isso, não é psicopata. Mas aquelas que não se arrependem, ou fingem que arrependem para obter o reconhecimento dos pais ou colegas, essa é psicopata. O psicopata sempre tenta manipular os outros, a mãe, o pai, os avós, a família.

Você conheceu muitos casos de crianças assim? Atendi no consultório uma família em que a criança colocou o gato da avó no freezer porque ela não quis comprar um videogame. A avó perguntava a todos onde estava o animal e a criança dizia não saber. Depois eles descobriram que a criança foi a responsável pela morte do gato, por vingança.

Mas, no caso da personagem da novela "Viver a Vida", a Isabel, que ao contrário da Ivone, de "Caminho das Índias", não esconde de ninguém o que pensa, faz e fala maldades para todos saberem, não é diferente de um psicopata, que está sempre dissimulando? A diferença entre Isabel e Ivone é que Isabel, por ser mais nova, não sabe esconder, dissimular. Quanto mais jovem, assim como nas crianças, é fácil detectar logo a maldade. Com o tempo o psicopata aprende a esconder suas reais intenções.

Há cura ou tratamento? Não há cura, nem tratamento. A pessoa tem o sistema emocional desconectado. É como alguém que houve uma música, sabe a letra, mas não sente a melodia. O psicopata é 100% razão.

Então, como conviver com essas pessoas? É preciso sabermos conviver e ao mesmo tempo mantermos uma distância segura, para que não sejamos prejudicados.

Para os médicos é fácil o diagnóstico? Até os médicos podem ser enganados pelos psicopatas, que estão sempre dissimulando a sua natureza, se fingindo de vítimas, ou de boas pessoas. Por isso, ao dar um diagnóstico, é preciso conversar com os familiares, colegas de trabalho e principalmente, os empregados, para saber como é o comportamento da pessoa em seu dia a dia.

Ana Beatriz Barbosa Silva Médica psiquiatra pela UFRJ Diretora das clínicas de Medicina do Comportamento no Rio de Janeiro e em São Paulo

0 comentários: