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8 de novembro de 2009

Gula, a eterna insatisfação

Comer de forma compulsiva é uma forma de se ver livre da angústia

Todo mundo teve ou já foi vítima de um dos sete pecados que a Igreja Católica nomeou como capitais. A partir de hoje, vamos tratar de cada um deles aqui neste espaço, sempre aos domingos.

O primeiro é a gula, mas todos "têm algo de inconsciente e, por mais consciência que a pessoa tenha do seu pecado (sintoma), ela não sabe por que o comete. Ou seja, o sujeito sabe que faz, mas não sabe e não entende o porquê", explica a psicanalista Mara Viana de Castro Sternick.

"A gula se refere a paixões e à falta de temperança e moderação", sentenciou São Tomás de Aquino. É o caso de Natália, uma gordinha simpática que não para de comer. As amigas dizem que ela tem verdadeira compulsão por comida, principalmente por doces. E tudo vira pretexto para que ela inclua mais comida em sua vida.

"Certa vez, saímos do cinema e fomos comer um sanduíche. Natália comeu duas promoções, tomou um litro e meio de refrigerante e, quando pensamos que ela tinha acabado, tomou três sorvetes", relembra a amiga Camila.

A origem da palavra gula vem do latim "gul", que significa parte da boca na qual se engole. Goela, gola, gulodice, garganta são todas derivadas.

A comida sempre esteve no centro da vida humana. "Na Idade da Pedra, os homens caçavam animais e convidavam os amigos para compartilhar a comida. Nos banquetes da Idade Média, as pessoas, depois de se empanturrarem bastante, iam ao banheiro e enfiavam o dedo na garganta", relembra Mara.

O que antes era feito para esvaziar o estômago para sobrar mais espaço para a comida hoje virou anorexia. Pessoas que se valem do mesmo recurso, mas para emagrecer. "A bulimia e a anorexia são transtornos alimentares. A ditadura da beleza criou sintomas que nada têm de novos. São antigos, basta retomar a história", insinua a terapeuta.

Angústia. E para a psicanálise, os excessos, de um modo geral, têm a ver com o gozo. "A pulsão na gula é oral. A pessoa come para se ver livre da angústia. Ela não tem fome e come além da sua necessidade como forma de ultrapassar essa barreira", pontua Mara.

Sob o ponto de vista psíquico, todo neurótico tem um sintoma e todo sintoma faz o sujeito sofrer. Ademar (nome fictício) confessa que come muito para não deixar nada para seu irmão. "Se tem uma caixa de morangos, como tudo para que não sobre nada para ele", revela Ademar, sem remorso.

Ligue o alerta
1 Ingerir quantidade excessiva de comida mesmo sem fome
2 Comer até se sentir desconfortavelmente cheio ou agoniado
3 Esconder hábitos alimentares por vergonha
4 Esconder comida para episódios de voracidade
5 Esconder embalagens vazias
6 Estar descontente com a aparência ou ter baixa autoestima

Evidências
- Histórico. Geralmente, o guloso é obeso, com uma história de variação de peso, pois a comida
é usada para lidar com problemas psicológicos.
- Estatística. O transtorno do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2% da população em geral, mais frequentemente acometendo mulheres entre 20 e 30 anos.
- Pesquisas. Estudos indicam que 30% das pessoas que procuram tratamento para perda de peso são portadoras de transtorno do comer compulsivo.

fonte:Otempo

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