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20 de maio de 2011

Arrogância do império americano é uma ameaça para a humanidade

As condições para essa tragédia estão sendo criadas

Conto-me entre os que se entusiasmaram com a eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos, especialmente vindo depois de George W. Bush. Este acreditava na iminência do armagedon bíblico e seguia à risca a ideologia do destino manifesto, inventada para justificar a guerra contra o México, segundo a qual os EUA seriam escolhidos por Deus para levar ao mundo os direitos humanos, a liberdade e a democracia.

Esperava que o novo presidente não fosse mais refém dessa nefasta eleição divina, pois anunciava em seu programa o multilateralismo e a não-hegemonia. Mas tinha minhas desconfianças com o "Yes, we can" . Face à crise econômico-financeira, apregoava que os EUA mostraram, em sua história, que podiam tudo e que iam superar a situação. Mas agora, com o assassinato de Osama bin Laden, Obama não teve como esconder a arrogância atávica.

O presidente, de extração humilde, afrodescendente, nascido fora do continente, primeiramente muçulmano e depois evangélico, disse claramente: "O que aconteceu envia uma mensagem a todo o mundo: quando dizemos que nunca vamos esquecer, estamos falando sério".

Isso me faz lembrar um teólogo que serviu 12 anos como assessor da ex-Inquisição em Roma e que veio me prestar solidariedade por ocasião do processo doutrinário que lá sofri. Confessou-me: "Aprenda da minha experiência: a ex-Inquisição não esquece nada, não perdoa nada e cobra tudo; prepare-se". Efetivamente assim foi.

Pior ocorreu com um teólogo moralista, queridíssimo em toda a cristandade, o alemão Bernhard Hâring, com câncer na garganta a ponto de quase não poder falar. Mesmo assim foi submetido a rigoroso interrogatório por causa de afirmações sobre sexualidade. Ao sair, confessou: "O interrogatório foi pior do que aquele que sofri com a SS nazista durante a guerra". O que significa: pouco importa a etiqueta, católico ou nazista, todo sistema autoritário e totalitário obedece à mesma lógica: cobra tudo, não esquece e não perdoa.

Assim prometeu Barack Obama levar avante o Estado terrorista criado por seu antecessor, mantendo o Ato Patriótico que autoriza a suspensão de direitos e a prisão de suspeitos sem avisar aos familiares, o que configura sequestro. Não sem razão, escreveu o norueguês Johan Galtung, o homem da cultura da paz, criador de instituições de pesquisa da paz e inventor do método Transcend na mediação dos conflitos (uma espécie de política do ganha-ganha): tais atos aproximam os EUA ao Estado fascista.

O fato é que estamos diante de um império. Ele é consequência lógica e necessária do presumido excepcionalismo. É um império singular, não baseado na ocupação territorial ou em colônias, mas nas 800 bases militares distribuídas pelo mundo todo. Elas estão lá para meter medo e garantir a hegemonia dos norte-americanos no mundo. Nada foi desmontado pelo novo imperador: nem fechou Guantánamo como prometeu e ainda enviou 30 mil soldados ao Afeganistão.

Podemos discordar da tese de Abraham P. Huntington em seu discutido livro "O Choque de Civilizações". Mas nele há observações dignas de nota, como esta: "a crença na superioridade da cultura ocidental é falsa, imoral e perigosa". Mais: "a intervenção ocidental provavelmente constitui a mais perigosa fonte de instabilidade e de um possível conflito global num mundo multicivilizacional".

Pois as condições para semelhante tragédia estão sendo criadas pelos EUA e seus súcubos europeus.



Escrito por: Leonardo Boff


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