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18 de fevereiro de 2011

A difícil passagem da era tecnozoica à era ecozoica

Dificilmente escaparemos do abismo, cavado lá na frente

As grandes crises comportam grandes decisões, que significam vida ou morte para certas sociedades, para uma instituição ou para uma pessoa.

A humanidade como um todo está com febre e doente e deve decidir: ou continuar com seu ritmo alucinado de produção e consumo, garantindo a subida do PIB nacional e mundial, num ritmo altamente hostil à vida, ou enfrentar dentro em pouco as reações do sistema Terra, que já deu sinais claros de estresse global.

Não tememos um cataclisma nuclear, não impossível, mas improvável, que significaria o fim da espécie humana. Receamos, isso sim, como muitos cientistas advertem, uma mudança repentina, abrupta e dramática do clima, que rapidamente dizimaria espécies e colocaria sob risco a nossa civilização.

Isso não é uma fantasia sinistra. Já o relatório do IPPC de 2001 acenava para essa eventualidade. O relatório da U. S. National Academy of Sciences de 2002 afirmava "que recentes evidências científicas apontam para a presença de uma acelerada e vasta mudança climática: o novo paradigma de uma abrupta mudança no sistema climático está bem estabelecida pela pesquisa já há dez anos; no entanto, esse conhecimento é pouco difundido e parcamente tomado em conta pelos analistas sociais".

Richard Alley, presidente da U.S. National Academy of Sciences Committee on Abrupt Climate Change, com seu grupo, comprovou que, ao sair da última idade do gelo, há 11 mil anos, o clima da Terra subiu 9 graus em apenas dez anos. Se isso ocorrer conosco, estaríamos enfrentando uma hecatombe ambiental e social de consequências dramáticas.


O que está, finalmente, em jogo com a questão climática? Estão em jogo duas práticas em relação à Terra e seus recursos limitados. Elas fundam duas eras de nossa história: a tecnozoica e a ecozoica.

Na tecnozoica, se utiliza um potente instrumental, inventado nos últimos séculos, a tecnociência, com a qual se explora de forma sistemática e com cada vez mais rapidez os recursos, em benefício das minorias mundiais, deixando à margem grande parte da humanidade. Praticamente toda a Terra foi ocupada e explorada. Ela ficou saturada de toxinas, elementos químicos e gases de efeito estufa, a ponto de perder sua capacidade de metabolizá-los.

Na ecozoica se considera a Terra dentro da evolução. Por mais de 13,7 bilhões de anos, o universo existe em expansão, empurrado pela insondável energia de fundo e pelas quatro interações que sustentam e alimentam cada coisa. Ele constitui um processo unitário, diverso e complexo que produziu as grandes estrelas vermelhas, as galáxias, o nosso Sol, os planetas e a Terra. Gerou também as primeiras células vivas, os organismos multicelulares, a proliferação da fauna e da flora, a autoconsciência humana pela qual nos sentimos parte do todo e responsáveis pelo planeta.

Todo esse processo envolve a Terra até o momento atual. Respeitado em sua dinâmica, ele permite à Terra manter sua vitalidade e seu equilíbrio.

O futuro se joga entre aqueles comprometidos com a era tecnozoica, com os riscos que encerra, e aqueles que assumiram a era ecozoica, lutam para manter os ritmos da Terra, produzem e consomem dentro de seus limites e que colocam a perpetuidade e o bem-estar humano e da comunidade terrestre como seu principal interesse.

Se não fizermos essa passagem, dificilmente escaparemos do abismo, já cavado lá na frente.

Escrito por: Leonardo Boff

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