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18 de novembro de 2010

A biologia recorre ao cinema

União das áreas faz surgir um novo tipo de profissional, o cientista animador

NOVA YORK, EUA. Novidade na área da pesquisa científica, a animação molecular é um campo que está crescendo rapidamente e busca trazer o poder do cinema à biologia. Utilizando décadas de estudos e montanhas de dados, cientistas e animadores estão recriando em detalhes nítidos o complexo funcionamento interior das células vivas.

Esse campo também gerou um novo tipo de profissional, os cientistas animadores. Esses profissionais não apenas entendem os processos moleculares, como também dominam ferramentas de computador utilizadas na indústria do cinema.

"A habilidade de fazer uma animação realmente dá aos biólogos uma chance de pensar nas coisas de uma nova forma mais completa", disse Janet Iwasa, bióloga celular que agora trabalha como animadora molecular na Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.

Janet conta que começou a trabalhar com visualizações quando viu sua primeira molécula animada, cinco anos atrás. "Só ouvir os cientistas descrevendo como a molécula se movia não era o suficiente para mim", disse ela. "O que realmente me fez entender o funcionamento foi quando vi a molécula em movimento", afirma.

Financiamento. Em 2006, com um financiamento da Fundação Nacional de Ciência, ela passou três meses na Escola de Efeitos Visuais Gnomon em Hollywood, na qual ela participou de uma espécie de "acampamento de aprendizagem". Enquanto ela trabalhava na animação de moléculas, seus colegas, todos homens, estavam obcecados com a criação de monstros e naves espaciais.

Para compor suas animações, Janet desenha utilizando recursos de domínio público como o Banco de Dados de Proteínas, uma base de dados extensa e elaborada contendo coordenadas tridimensionais para dos os átomos em uma proteína. Embora não trabalhe mais em um laboratório, Janet ajuda outros cientistas.

Alternativas. "Tudo o que tínhamos antes - cristalografia de raios X e microscopia - eram apenas fotografia", disse Tomas Kirchhausen, professor de biologia celular da Escola de Medicina de Harvard, nos EUA.

"Para mim, as animações são uma maneira de colar todas essas informações de uma forma lógica. Ao fazer a animação, posso ver o que faz sentido e o que não faz sentido. Elas nos forçam a descobrir se o que estamos fazendo é realístico ou não".

Kirchhausen, por exemplo, estuda o processo pelo qual as células incorporaram proteínas e outras moléculas. Ele diz que a animação o ajuda a visualizar como uma proteína específica de três cadeias chamada clatrina funciona dentro de determinada célula.


 Contraponto
Processo envolve grandes doses de conjectura e ficção

Nova York, EUA. Se houver um Steven Spielberg da animação molecular, ele, provavelmente, é Drew Berry, biólogo celular que trabalha para o Instituto Walter e Eliza Hall de Pesquisa Médica em Melbourne, Austrália.

O trabalho de Berry é reverenciado pela comunidade de animadores moleculares por sua qualidade artística e precisão técnica. Animações criadas por ele são exibidas em museus como o de Arte Moderna de Nova York e o Centre Pompidou em Paris. Em 2008, suas animações compunham o cenário de "Genes e Jazz", noite de música e ciência realizada no Museu Guggenheim de Nova York.

A nova geração de animadores moleculares está ciente de que eles estão continuando a partir do ponto em que muitos cientistas-artistas pararam. Eles não deixam de prestar homenagem aos pioneiros na animação molecular, como Arthur J. Olson e David Goodsell, ambos do Instituto de Pesquisa Scripps de San Diego.

Entretanto, apesar do alto entusiasmo entre as pessoas envolvidas no campo da animação molecular, a comunidade científica não é unânime sobre o valor dessas imagens para a pesquisa científica. Apesar de reconhecerem o potencial para ajudar a refinar uma hipótese, por exemplo, alguns cientistas dizem que as visualizações podem rapidamente se transformar em ficção. "Alguns animadores, claramente, são mais hollywoodianos do que úteis", disse Peter Walter, pesquisador do Instituto Médico Howard Hughes. "Pode ficar difícil distinguir o que é dado e o que é fantasia".

Gael McGill, presidente da Digizyme, reconhece que os processos celulares podem envolver uma dose significativa de conjectura. Os animadores alternam o uso de cor e espaço, entre outras qualidades, para destacar uma função específica ou uma parte de célula. "Todos os eventos que retratamos são tão pequenos, que eles estão abaixo da onda de luz", disse o executivo.

Mas ele defende que essas visualizações serão cada vez mais necessárias em um mundo abarrotado por dados. "Devido à crescente complexidade, e ao aumento dos dados, temos um grande problema", diz.

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