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10 de setembro de 2010

Para salvar a vida na Terra, as mulheres estão chegando ao poder

Há uma feliz singularidade na disputa presidencial no Brasil: a presença de duas mulheres, Marina Silva e Dilma Rousseff. Elas são diferentes, cada qual com seu estilo, mas ambas com indiscutível densidade ética e compreensão da política como virtude a serviço do bem comum, e não como técnica de conquista e uso do poder, em benefício da vaidade ou de interesses elitistas que ainda predominam na democracia que herdamos.

Elas emergem num momento especial da história do país, da humanidade e do planeta Terra. Se pensarmos radicalmente e chegarmos à conclusão, como chegaram notáveis cosmólogos e biólogos, de que o sujeito principal das ações não somos nós mesmos, num antropocentrismo superficial, mas a Terra, entendida como superorganismo vivo, então diríamos que é a própria Terra que, através destas mulheres, nos está falando, conclamando e advertindo.

O novo equilíbrio deverá passar pelas mulheres predominantemente, e não pelos homens. Estes, depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta. Os encontros internacionais mostram-nos despreparados para lidar com temas ligados à vida e à preservação da Casa Comum. Neste momento crucial de graves riscos, são invocados aqueles sujeitos históricos que estão, pela própria natureza, melhor apetrechados a assumirem missões e ações ligadas à preservação e ao cuidado da vida. São as mulheres e seus aliados: aqueles homens que tiverem integrado em si as virtudes do feminino. A evolução as fez profundamente ligadas aos processos geradores e cuidadores da vida. Elas são as pastoras da vida e os anjos da guarda dos valores derivados da dimensão da anima (do feminino na mulher e no homem) que são o cuidado, a reverência, a capacidade de captar mensagens e sentidos, sensíveis aos valores como a doação, o amor incondicional, a renúncia em favor do outro e a abertura ao Sagrado.

O feminismo mundial trouxe uma crítica fundamental ao patriarcalismo que nos vem desde o neolítico. O patriarcado originou instituições que ainda moldam sociedades, como a razão instrumental-analítica que separa natureza e ser humano; criou o Estado e sua burocracia; projetou um estilo de educação que reproduz e legitima o poder patriarcal; organizou exércitos e inaugurou a guerra. Afetou instâncias como religiões e igrejas, cujos deuses ou atores são quase todos masculinos. O "destino manifesto" do patriarcado é do dominium mundi (dominação do mundo), com a pretensão de fazer-nos "mestres e donos da natureza"(Descartes).

Atualmente, os homens se fizeram vítimas do "complexo de deus" no dizer do psicanalista alemão K. Richter. Assumiram tarefas divinas: dominar a natureza e os outros, organizar toda a vida, conquistar os espaços exteriores e remodelar a humanidade. Tudo isso foi simplesmente demais. Não deram conta. Sentem-se um "deus de araque" que sucumbe ao próprio peso.

É agora que se faz urgente a atuação salvadora da mulher. Damos razão ao que escreveu anos atrás o Fundo das Nações Unidas para a População: "A raça humana vem saqueando a Terra de forma insustentável, e dar às mulheres maior poder de decisão sobre o seu futuro pode salvar o planeta a destruição". Observe-se: não se diz "maior poder de participação às mulheres", coisa que os homens concedem, mas de forma subalterna. Aqui se afirma: "poder de decisão sobre o futuro." Essa decisão, as mulheres devem assumir; caso contrário, arriscaremos nosso futuro. Esse é o significado profundo, providencial, das duas candidatas à Presidência.

Escrito por:Leonardo Boff

fonte:Otempo

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