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17 de setembro de 2010

É importante consolidar a ruptura histórica operada pelo PT no país

Derrota das elites deve se configurar "não retorno definitivo"

Para mim, o significado maior desta eleição é consolidar a ruptura que Lula e o PT instauraram na história política brasileira. Derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial. Notoriamente, elas sempre mantiveram o povo à margem da cidadania, feito, na dura linguagem de nosso maior historiador mulato, Capistrano de Abreu, "capado e recapado, sangrado e ressangrado". Elas estiveram montadas no poder por quase 500 anos. Organizaram o Estado de tal forma que seus privilégios ficassem sempre salvaguardados. São 20 mil famílias que controlam 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras.

Até a vitória de um filho da pobreza, Lula, a casa-grande e a senzala constituíam os gonzos que sustentavam o mundo social das elites. A casa-grande não permitia que a senzala descobrisse que a riqueza das elites fôra construída com seu trabalho superexplorado. Com alianças espertas, embaralhavam diferentemente as cartas para manter sempre o mesmo jogo e, gozadores, repetiam: "Façamos nós a revolução antes que o povo a faça". E a revolução consistia em mudar um pouco para ficar tudo como antes. Destarte, abortavam a emergência de um outro sujeito histórico de poder, capaz de ocupar a cena e inaugurar um tempo menos excludente. Entretanto, contra sua vontade, irromperam redes de movimentos sociais de resistência e autonomia. Esse poder social se canalizou em poder político até conquistar o poder de Estado.

Escândalo dos escândalos para as mentes súcubas e alinhadas aos poderes mundiais: um operário, um não educado academicamente na escola dos faraós, chegar ao poder central e devolver ao povo o sentimento de dignidade, de força histórica e de ser sujeito de uma democracia republicana, onde "a coisa pública", o social, a vida lascada do povo ganhasse centralidade. Milhões passaram da miséria à pobreza digna e laboriosa e da pobreza à classe média. Toda a sociedade se mobilizou. A derrota inflingida às elites antipovo deve ser consolidada nesta eleição por uma vitória convincente, para que se configure um "não retorno definitivo".

Houve três olhares sobre o Brasil. Primeiro, a partir da praia: os índios assistindo à invasão. Segundo, a partir das caravelas: os portugueses "descobrindo/encobrindo" o Brasil. No terceiro, o Brasil ousou ver-se a si mesmo, e aí começou a invenção de uma república mestiça étnica e culturalmente. O Brasil enfrentou ainda quatro duras invasões: a colonização; a vinda dos povos novos, os imigrantes europeus; a industrialização conservadora nos anos 30, que criou um vigoroso mercado interno, e, por fim, a globalização econômico-financeira, inserindo-nos como sócios menores. Face a essa história tortuosa, o Brasil se mostrou resiliente, quer dizer, enfrentou essas visões e intromissões, conseguindo dar a volta por cima. Agora está colhendo os frutos.

Urge derrotar aquelas forças reacionárias que se escondem atrás do candidato da oposição. Não julgo a pessoa, coisa de Deus, mas o que representa como ator social. Celso Furtado, nosso melhor pensador em economia, morreu deixando uma advertência, título de seu livro "A Construção Interrompida" (1993): "Trata-se de saber se temos um futuro como nação que conta no devir humano. Ou se prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico de formação de um Estado-nação". Estas não podem prevalecer. Temos condições de completar a construção do Brasil, derrotando-as com Lula e as forças que realizarão o sonho de Celso Furtado e o nosso.

Escrito por:LEONARDO BOFF
Teólogo - iboff@leonardoboff.com.br

fonte:Otempo

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