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9 de agosto de 2010

Crack é uma droga com efeito devastador

Murilo Vieira, que atua em um instituto de prevenção e combate às drogas, experimentou as consequências avassaladoras do consumo de crack.

Ele conta que em 1998, usuário de maconha, foi induzido por um traficante a fumar um cigarro "mesclado", composto parcialmente por crack.

Ele achou que teria uma vida social normal, mas tornou-se viciado imediatamente.

"O cara que fumou crack fica longe dessa ‘história' de administrar o vício, pois fica usando direto, ou seja, tudo o que faz é voltado para o crack", afirma. Em apenas um mês de uso, Murilo perdeu todo o seu dinheiro.

Sua loja de bicicletas foi à falência, e ele chegou a entregar, em troca da droga, os talonários de notas fiscais para os traficantes utilizarem como instrumento de lavagem de dinheiro.

Percebendo que corria para a ruína, procurou ajuda. Um pastor evangélico o abrigou em sua casa, não permitindo que saísse durante um mês. Murilo acredita que esse foi o motivo da sua salvação.

Motivado pelo propósito de ajudar outras pessoas a vencerem o vício, há seis anos ele fundou uma comunidade terapêutica para atender, principalmente, usuários de crack.

Para que o tratamento obtenha êxito, os fatores preponderantes, segundo ele, são em primeiro lugar motivação pessoal e, em seguida, apoio da família. "Nem pense em entrar no crack, mas, se entrar, procure uma saída o mais rápido possível, senão a situação fica cada vez mais grave", aconselha Murilo.

Efeitos imediatos

Se o conselho vale para qualquer droga, no caso do crack ganha um caráter imperativo: jamais experimente. Fumar uma só vez é suficiente para aprisionar o usuário, abrindo um ciclo destrutivo do qual poucos conseguem sair.

"Nós somos impotentes em relação ao crack. Nós não dominamos o crack. No que a gente começa a usar, o poder está com a droga", adverte a pesquisadora Solange Nappo, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), da Universidade Federal de São Paulo.

Esse tipo de droga é barato e causa dependência muito rapidamente, marginalizando o usuário em semanas ou até dias, e assim deixando pouco tempo para uma reação por parte da família.

E quanto mais tempo o tratamento demorar a começar, menores as chances de recuperação. A especialista afirma que ele deve ser iniciado de preferência ainda no primeiro mês.

Atualmente o uso da droga se alastra em vários segmentos sociais de gênero, sexo, idade e classe. Gestores de saúde mental relatam aumento no consumo fora dos grandes centros urbanos.

O crack, assim como a merla, é cocaína e tem os mesmos efeitos no cérebro que essa droga, porém a forma de ser usada faz a diferença em relação ao pó: por ser fumada em vez de inalada, a substância é absorvida instantaneamente. Entre 10 e 15 segundos, os primeiros efeitos já ocorrem. A cocaína em pó leva de 10 a 15 minutos para fazer efeito se inalada e de 3 a 5 minutos quando injetada.

Risco de morte

A duração dos efeitos do crack também é muito rápida, em torno de cinco minutos, enquanto os da cocaína injetada ou inalada duram de 20 a 45 minutos. A pequena permanência dos efeitos do crack faz com que o usuário volte a utilizar a droga em intervalos muito curtos, praticamente de cinco em cinco minutos, levando-o à dependência muito mais rapidamente do que os usuários de outras drogas.

Logo após fumar crack, o usuário tem uma sensação de grande prazer, euforia e poder, o que o leva a desejar repetir a experiência, fazendo isso inúmeras vezes, de forma compulsiva e avassaladora, gastando todo o dinheiro que possui e procurando financiar o vício a todo custo.

O crack também provoca estado de excitação, hiperatividade, insônia, perda de sensação de cansaço e falta de apetite. Em menos de um mês, o usuário perde muito peso, de 8 a 10 quilos.

"Com um tempo maior de uso, perde as noções básicas de higiene, ficando com aspecto deplorável. Após uso intenso e repetitivo, sente cansaço e forte depressão", explica Solange Nappo.

A droga também pode produzir aumento das pupilas, que prejudica a visão, dor no peito, contrações musculares, convulsões e até coma. O uso crônico de cocaína também pode levar à degeneração irreversível dos músculos.

A pressão arterial pode elevar-se, e o coração pode bater mais rapidamente (taquicardia). "Em casos extremos, provoca parada cardíaca e morte", adverte a pesquisadora.

A cocaína induz à tolerância. É como se o cérebro se acomodasse à quantidade de drogas, exigindo uma dose cada vez maior para produzir as sensações. Por outro lado, ocorre uma sensibilização: com uma pequena dose, outros efeitos desagradáveis, como a paranóia, surgem.

Com o tempo, o usuário necessita de uma dose cada vez maior para obter os efeitos prazerosos, enquanto seu cérebro está sensibilizado para os efeitos desagradáveis.

Efeitos imediatos

* Hipertensão, dor no peito
* Comportamento violento
* Perda do interesse sexual
* Irritabilidade
* Tremores, convulsão
* Falta de apetite
* Paranóia, alucinações e delírios
* Psicose cocaínica

Fundo de quintal

* O crack surgiu oficialmente no Brasil em 1989.
* A droga atraiu pequenos traficantes e gerou aumento incontrolável de produções caseiras, com diferenças conforme a região.
* Na produção de crack não há o processo de purificação final. A cocaína em pó (cloridrato de cocaína) é dissolvida na água e misturada com bicarbonato de sódio.
* No preparo das pedras também podem ser misturadas diversas substâncias tóxicas como gasolina, querosene e água de bateria.
* Após aquecido e seco, o composto adquire a forma de pedras que são quebradas e fumadas de diversas maneiras e em diferentes recipientes, como tubos de PVC ou latas de alumínio. Pode ser também enrolada no cigarro de tabaco ou misturada na maconha.

Fonte: Cebrid/Unifesp

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