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30 de julho de 2010

Outro jeito de ser Igreja: o das Comunidades eclesiais de Base


Quem leu meu último artigo poderá ter ficado desesperançado. Ali analisei a estrutura de poder da Igreja. Esse poder não favorece o ideal evangélico de igualdade, fraternidade e participação. Esse tipo de poder, por sua natureza, precisa ser forte e frio. Esse modelo surgiu historicamente, perfazendo menos de 0,1% de todos os fiéis. Portanto, não é toda a Igreja, apenas uma parte mínima dela.

Mas a Igreja-comunidade, como fenômeno religioso e movimento de Jesus, é muito maior que a instituição. Ela encontra outras formas de organização, bem mais próximas ao sonho do fundador e de seus primeiros seguidores. Inteligentemente, os bispos brasileiros, em sua reunião anual de janeiro, confessaram: "só uma Igreja com diferentes jeitos de viver a mesma fé será capaz de dialogar relevantemente com a sociedade contemporânea".

Com isso eles quebraram a pretensão de um único modo de ser. Sem negar esse, há muitos outros jeitos: o jeito da Igreja da Libertação, dos carismáticos, dos religiosos e religiosas, da Ação Católica, até da Opus Dei, da Comunhão e Libertação e da Canção Nova, só para dizer as mais conhecidas.

Mas há um jeito que é altamente promissor, nascido nos anos 50 no Brasil e que ganhou relevância mundial: as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Os bispos lhe dedicaram uma animadora mensagem. Curiosamente, elas surgiram no momento em que eclodiu no Brasil uma nova consciência histórica. As CEBs constituem um outro modo de ser Igreja, cujo sujeito principal, mas não exclusivo, são os pobres. Articulam continuamente fé e vida, criando novos ativos no campo social ou político, nos sindicatos, nos movimentos sociais como o MST ou nos partidos político.

Não sabemos exatamente quantas são, mas calcula-se que cheguem a 100 mil comunidades de base, envolvendo alguns milhões de cristãos. Os bispos constatam seu alto valor inovador e anti-sistêmico. O mercado expulsou as relações de cooperação e solidariedade, enquanto nas CEBs se vivem as relações fundadas na gratuidade, na lógica do oferecer-receber-retribuir. Elas assumiram a causa ecológica, por isso se entendem também como comunidades ecológicas de base. Desenvolveram uma forte espiritualidade, do cuidado para com a vida e para com a Mãe Terra. Daí resultaram mais respeito, veneração e cooperação com tudo o que existe e vive.

As CEBs mostram como a memória sagrada de Jesus pode receber outra configuração social, centrada na comunhão, no amor fraterno e na alegria de testemunhar a vitória da vida contra as opressões. É o significado existencial da ressurreição de Jesus como insurreição contra o tipo de mundo vigente.

Humildemente, os bispos testemunham que elas ajudam a Igreja a estar mais comprometida com a vida e com o sofrimento dos pobres. Mais ainda: interpelam a Igreja inteira, chamando-a à conversão, ao compromisso para a transformação do mundo em mundo de irmãos e irmãs.

Esse modo de ser Igreja pode servir de modelo para inserção na cultura contemporânea, urbana e globalizada. Se fosse assumido como inspiração para o projeto do papa Bento XVI, de "reconquistar" a Europa, seguramente teria algum sucesso. Ver-se-iam comunidades de cristãos, intelectuais, operários, mulheres, jovens, vivendo sua fé em articulação com os desafios de suas situações. Não pretenderiam ter o monopólio da verdade e do caminho certo. Mas se associariam a todos os que buscam seriamente uma nova linguagem religiosa e um novo horizonte de esperança para a humanidade.

Escrito por:Leonardo Boff

fonte:Otempo

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