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16 de julho de 2010

Como operar a transição do velho para o novo paradigma

Damos por já realizada a demolição crítica do sistema de consumo e de produção capitalista com a cultura materialista que o acompanha. Ou o superamos historicamente ou porá em grande risco a espécie humana.

A solução para a crise não pode vir do próprio sistema que a provocou. Como dizia Einstein, "o pensamento que criou o problema não pode ser o mesmo que o solucionará". Somos obrigados a pensar diferente se quisermos ter futuro para nós e para a biosfera. Por mais que se agravem as crises, como a da zona do euro, a voracidade especulativa não arrefece.

O dramático de nossa situação reside no fato de que não possuímos nenhuma alternativa que venha substituir o atual sistema. Nem por isso, devemos desistir do sonho de um outro mundo. Essa sensação foi bem expressa pelo pensador italiano Antonio Gramsci: "O velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer".

Mas há uma vasta semeadura de alternativas, que ganha visibilidade nos fóruns sociais mundiais e recentemente na Cúpula dos Povos pelos Direitos da Mãe Terra, realizada em abril, em Cochabamba, na Bolívia.

A história não é linear. Ela se faz por rupturas provocadas pela acumulação de energias, ideias e projetos. Então, o novo irrompe com vigor a ponto de ganhar a hegemonia sobre todas as outras forças. Instaura-se então outro tempo e começa nova história.

Enquanto isso não ocorrer, temos que ser realistas. Por um lado, devemos buscar alternativas para não ficarmos reféns do velho sistema e, por outro, somos obrigados a estar dentro dele, não obstante as contradições. Caso contrário, não evitaríamos um colapso coletivo com efeitos dramáticos.

O desafio é como processar a transição entre um sistema consumista que estressa a natureza e sacrifica as pessoas e um sistema de sustentação de toda vida em harmonia com a Mãe Terra, com respeito aos limites de cada ecossistema e com uma distribuição equitativa dos bens naturais e industriais.

Trocando ideias em Cochabamba com o sociólogo François Houtart, convergimos nestes pontos para a transição do velho para o novo.

Nossos países do Sul devem, em primeiro lugar, lutar, ainda dentro do sistema vigente, por normas ecológicas e regulações que preservem o mais possível os bens e os serviços naturais ou tratem sua utilização de forma socialmente responsável.

Em segundo lugar, que não sejam reduzidos a meros exportadores de matérias primas, mas que incorporem tecnologias que deem valor agregado a seus produtos, criem inovações tecnológicas e orientem a economia para o mercado interno.

Em terceiro lugar, que exijam dos países importadores que poluam o menos possível e que contribuam financeiramente para a preservação e regeneração dos bens naturais que importam.
Em quarto lugar, que cobrem uma legislação ambiental internacional rigorosa para aqueles que menos respeitam os preceitos de uma produção ecologicamente sustentável e socialmente justa, que relaxam na adaptação e na mitigação dos efeitos do aquecimento global e que introduzem medidas protecionistas em suas economias.

O mais importante de tudo, no entanto, é formar uma coalizão de forças ao redor de valores e princípios coletivamente partilhados, expressos na Carta da Terra, na Declaração dos Direitos da Mãe Terra ou na Declaração Universal do Bem Comum da Terra e da Humanidade e no bem viver das culturas originárias das Américas.

Escrito por:Leonardo boff

fonte:Otempo

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