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25 de junho de 2010

Solidariedade para com as vítimas do "novo" PT

No lugar da ética, entraram os conselhos de Maquiavel

Passei um fim de semana lendo pela enésima vez "O Príncipe", de Maquiavel, no esforço de entender a atual política da Direção Nacional do PT. E aí encontrei as fontes que possivelmente estão inspirando o assim chamado "novo PT", aquele que trocou o poder da vontade de transformar a realidade pela vontade de poder compor-se com a realidade.

Nas palavras do candidato eleito pela convenção do partido em Minas Gerais, Fernando Pimentel, depois invalidado em nome da aliança com o PMDB, "o PT novo é o PT que faz alianças e convive com a realidade política brasileira, buscando transformá-la... Não somos mais um partido que coloca a ideologia como óculos escuros para não enxergar a realidade política; operamos com a realidade política do jeito que ela é para transformá-la" ("O Globo", 12.6.2010).

Vamos traduzir esse discurso de disfarce. A ideologia do PT originário era a ética e as reformas estruturais. O novo PT entende esse propósito como uma máscara que não permite enxergar a realidade política do jeito que ela é. Sabemos como é a política vigente, montada sobre alianças espúrias, sobre a mercantilização das relações políticas e sobre a rapinagem do dinheiro público.

Pimentel ainda acredita que, com as alianças, se pretende transformar a realidade, como se, para transformar uma gangue de bandidos, devesse fazer parte dela. No lugar da ética entraram os conselhos de Maquiavel: "ir diretamente à verdadeira realidade das coisas e não ater-se a representações imaginárias" (c. XV).

Para Maquiavel, a verdadeira realidade das coisas é a busca tenaz do poder, as formas de conquistá-lo e de conservá-lo. E aí vale tudo, os fins justificam todos os meios: o perjúrio, o crime e até o bem, se ele trouxer vantagens. As "representações imaginárias" são a ética. Ela não é posta de lado; até vale, desde que favoreça o poder. Caso contrário, pode ser atropelada: "não se afastar do bem quando se pode, mas saber usar o mal, se necessário" (c. XVIII). O importante não é ser bom, mas parecer bom. Não há porque cumprir a palavra empenhada se ela se volta contra o príncipe, pois "jamais faltarão motivos legítimos para justificar o não cumprimento de algo apalavrado" (c. XVIII).

É entristecedor ler em Pimentel que, "nesse processo de renovação, alguns companheiros vão ficar no passado". Esses, na verdade, são os portadores do futuro porque são fiéis à ética e ao sonho de uma política diferente. A direção do PT se rendeu, fazendo alianças escandalosas para se perpetuar no poder, se atolando no passado. O povo não merece ser defraudado dessa forma. Não é investindo em políticas assistenciais que se possa substituir-lhe a dignidade.

Mesmo assim, nas bases, deputados, prefeitos e vereadores do PT ético mantêm vivo o sonho e ão abandonam a questão: que Brasil queremos e de que ética pública precisamos?

Quero me solidarizar com as vítimas do maquiavelismo do "novo" PT, especialmente em Minas Gerais e no Maranhão. Neste Estado está ocorrendo uma tragédia, bem representada pelo histórico sindicalista Manoel da Conceição, de 75 anos, fundador do PT, torturado e mutilado pela polícia das oligarquias, obrigado a votar em Roseana Sarney, do PMDB. Da mesma forma quero me solidarizar com as vítimas de Minas Gerais, com Sandra Starling, com Durval Ângelo e tantos outros.

Nem tudo vale neste mundo. E se Cristo morreu, foi também para mostrar que nem tudo vale e que para tudo há algum limite, o que é válido também para o PT.

Escrito por:LEONARDO BOFF
Teólogo - iboff@leonardoboff.com.br

fonte:Otempo

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