Related Posts with Thumbnails

30 de junho de 2010

Promessa de felicidade sexual feminina causa controvérsias

FDA conclui que o aumento no apetite sexual não supera os efeitos colaterais

Remédio para falta de desejo em mulheres divide opinião de especialistas

NOVA YORK, EUA. Em uma cultura inundada pelo Viagra, em que os homens têm acesso à pilulazinha azul para melhorar seu desempenho, seria justo que as mulheres também tivessem um remédio para melhorar sua vida sexual. Pois um medicamento experimental que trata o desinteresse sexual nas mulheres causou grande empolgação e, ao mesmo tempo, uma grande polêmica entre especialistas.

Seria o desejo feminino tão mais complicado e contextual do que o masculino, a ponto de não poder ser localizado em uma única deficiência anatômica adequada a um remédio farmacêutico?

Por outro lado, é válido tentar "consertar" as mulheres quando a falta de desejo, geralmente, é um efeito colateral de outro problema - os homens não saberem como agradar suas parceiras?
O medicamento em estudo para Desejo Sexual Hipoativo (DSH) ainda não foi aprovado pela Administração de Alimentos e Medicamenos dos EUA (FDA). O novo remédio para o desejo feminino, chamado flibanserina, conta tanto com defensores quanto com críticos.

Ensaios clínicos patrocinados pela fabricante, Boehringer Ingelheim, relataram que mulheres em pré-menopausa que utilizaram a flibanserina experimentaram um aumento no apetite sexual, em comparação com mulheres que tomaram placebo.

Um grupo independente de especialistas, angariado pela FDA para avaliar o medicamento, concluiu que o pequeno efeito no aumento da libido não superou os efeitos colaterais como tontura e náusea. A Boehringer Ingleheim, em comunicado, disse que ficou desapontada com as recomendações do grupo e relatou que trabalhará para encontrar soluções.

Enquanto isso, a empolgação e depois o desânimo com o chamado "Viagra rosa" ilustra os desafios que as empresas farmacêuticas terão de enfrentar enquanto modificam seu nicho de mercado - de problemas crônicos, como colesterol e escleroses, para questões de qualidade de vida, como o sexo.

As agências reguladoras e os médicos costumam ser menos tolerantes com efeitos colaterais dos medicamentos para qualidade de vida do que com os remédios para combater doenças graves. Alguns críticos afirmam que os laboratórios estão tentando encontrar de qualquer forma novos problemas de qualidade de vida para oferecerem tratamentos. Nessa busca, estariam aumentando as ansiedades da população por medicamentos.

DSH representa 10% das disfunções
Cerca de 10% das mulheres têm desejo sexual hipoativo, diz o ginecologista Gérson Lopes, presidente da Comissão de Sexologia da Febrasgo. "A flutuação do desejo é normal, mas, quando a falta de desejo é recorrente, pode ser um problema. A DSH é a diminuição ou ausência de desejo ou fantasias sexuais que causam angústia ou dificuldade interpessoal", define. "Hoje só temos a psicoterapia para o tratamento, que é lento, pode chegar a 40 sessões. Muitas mulheres desanimam, já que o resultado não é tão rápido", explica. (ACB)

Mercado
O potencial de mercado para o medicamento é enorme. Um artigo na revista "Nature Reviews Drugs Discovery" prevê que o lucro com tratamentos para disfunção sexual feminina somente nos EUA poderia exceder os US$ 4 bilhões por ano, "com apenas 15% dos pacientes realizando terapia".





Complemento
Remédio pode auxiliar terapia

O Desejo Sexual Hipoativo (DSH) é o tipo mais frequente dentre as disfunções sexuais femininas e pode ser provocado por questões como educação repressora, abuso sexual na infância, autoimagem corporal negativa, medo da intimidade, ansiedade de desempenho e conflitos entre o casal, dentre outros.

Apesar de ter um forte aspecto psicológico, especialistas acreditam que a flibanserina pode ajudar no tratamento da disfunção. “Nesses casos há um desequilíbrio de neurotransmissores e o remédio pode ajudar. É uma possibilidade de agir mais rápido e ter uma adesão maior ao tratamento psicoterápico”, diz Carmita Abdo, psiquiatra e coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP).

Para que o remédio não seja utilizado indiscriminadamente, Carmita Abdo aposta na seriedade dos profissionais, já que não há exame laboratorial que confirme o diagnóstico. “Um bom profissional vai avaliar a mulher como um todo, do ponto de vista físico e relacional”, diz a psiquiatra.

Gerson Lopes, presidente da Comissão de Sexologia da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, também acha positivo o desenvolvimento da medicação para o DSH. “Toda tecnologia visa ao prazer para o homem e a reprodução para a mulher. O medicamento pode motivar a mulher a perceber que ela pode ter desejo sexual. Depois de um tempo de tratamento, ela pode, inclusive, voltar ao normal”.

fonte:Otempo

0 comentários: