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23 de junho de 2010

Jovens arriscam a própria pele em busca de fama na internet

Será que a internet está levando os adolescentes a fazer mais coisas burras do que nunca? Alguns especialistas em educação infantil acham que sim. Os adolescentes sempre foram suscetíveis a correr riscos tolos (graças, em parte, ao córtex cerebral pré-frontal, que comanda as tomadas de decisão e ainda está em desenvolvimento na adolescência). Mas esses especialistas alegam que, com o crescimento de sites como YouTube e Facebook, os adolescentes agora enfrentam pressão dos colegas virtuais para fazer acrobacias e manobras perigosas, e publicá-las na internet.

Não existem dados que demonstrem se a imprudência inspirada pela internet realmente está aumentando ou se os adolescentes estão correndo os mesmos riscos de gerações anteriores - e apenas encontraram formas mais fáceis de registrar ações estúpidas para todos verem. Mas, alguns médicos dizem que, no mínimo, a internet está fazendo os adolescentes brincar com o perigo.

Algumas semanas atrás, Hani Mansour, especialista em queimaduras, tratou um adolescente que havia se queimado gravemente após acender fogos de artifício. Não foi um acidente com um foguetinho qualquer. O menino tinha enchido a banheira da família de fogos de artifício, cobriu seu corpo com roupas protetoras e ligou uma câmera de vídeo para gravar o evento e publicar no YouTube.

A explosão criou uma bola de fogo que deixou o menino com queimaduras em 14% do corpo. "Os meninos tentam ser cientistas em foguetes há vários anos", disse Mansour, que é diretor médico do centro de queimados do Centro Médico São Barnabé. "Mas, agora, estamos vendo isso acontecer de uma forma mais imprudente. Eles estão fazendo isso com o propósito de filmar a ação".

As únicas coisas que distinguem muitas das jovens vítimas de queimadura de hoje e do passado é que os adolescentes atuais esperam criar um espetáculo flamejante e geralmente tomam precauções básicas, como cobrir a pele. No início do ano, um menino de 15 anos tentou filmar sua tentativa de fazer uma cesta arremessando uma bola de basquete em chamas.
Ele usava camadas de roupas para proteger sua pele e banhou a bola em gasolina antes de atear fogo nela. Entretanto, quando ele arremessou a bola, sua roupa pegou fogo. Segundo Mansour, o adolescente está se recuperando, mas terá cicatrizes permanentes das queimaduras de segundo e terceiro graus em seu peito, barriga e coxas.

Uma busca no YouTube por "flaming basketball" (bola de basquete flamejante) mostra mais de 150 vídeos. Em uma apresentação na Associação Norte-americana de Queimados, Mansour estudou 46 vídeos da internet sobre "truques como fogo". Embora alguns envolvessem adultos, a maioria dos participantes aparentava ter idade entre 13 e 20 anos e alguns tinham aparência ainda mais jovem.

Em abril, pesquisadores canadenses relataram o crescimento de vídeos online documentando brincadeiras de asfixia, comumente chamadas de "jogo do sufocamento" (choking game). Os 65 vídeos mostravam jovens intencionalmente se sufocando para criar uma breve euforia e excitação.

Embora a brincadeira aconteça há décadas (existe referência sobre ela em uma revista médica britânica dos anos 1890), alguns especialistas estão preocupados de que a internet esteja popularizando a atitude. Os 65 vídeos foram vistos 175 mil vezes, segundo relatório publicado na revista "Pediatria Clínica".

"O YouTube está divulgando essas atividades, chegando a um público maior e está ensinando as pessoas a fazer essas coisas", disse a autora principal, Martha Linkletter, residente em pediatria no Centro Médico IWK, em Halifax, Canadá.

"Adolescentes estão em um mundo onde realmente existe uma plateia"

Alguns especialistas dizem que o YouTube, MySpace e sites semelhantes deveriam ser usados para alertar os adolescentes sobre as consequências do comportamento arriscado. Mansour revelou que seu hospital planeja divulgar um vídeo no YouTube retratando a dor e as cicatrizes de quem sofreu acidentes por queimadura. Megan A. Moreno, especialista em medicina adolescente da Universidade de Wisconsin, realizou recentemente um estudo no qual uma personagem que ela criou no MySpace chamada Meg entrou em contato com adolescentes que usavam seus perfis para incentivar a bebida ou a exploração sexual. "Você tem certeza que é uma boa ideia incentivar esse tipo de coisa?", perguntou ela. "Os adverti sobre os riscos das doenças sexualmente transmissíveis".

Os adolescentes contatados por Meg eram duas vezes mais prováveis de retirar as referências ao sexo ou uso de substância durante os três meses de experimento do que as pessoas que não haviam sido contatadas. Esses dados foram divulgados em um estudo publicado em "Os Arquivos da Medicina Pediátrica e Adolescente".

Além dos riscos óbvios de quando os adolescentes filmam atitudes perigosas, alguns médicos ficam intrigados com a influência que a internet pode estar tendo sobre o desenvolvimento normal desses jovens. Megan destaca que uma das características mais notáveis da adolescência precoce é o "público imaginário" - o sentimento autoconsciente de que todo mundo está te vigiando. "Para as crianças no fim do ensino fundamental, uma parte realmente normal desse processo é a percepção de que você está em um palco e que todo mundo está olhando para você", disse Megan. "Porém, as crianças de hoje estão crescendo em um mundo diferente. Elas estão em um mundo onde realmente existe uma plateia".

fonte:Otempo

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