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21 de maio de 2010

Duas cosmologias em conflito: a da conquista e a do equilíbrio

Crise nos legou um grande debate sobre o futuro da Terra


O prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz disse recentemente: "O legado da crise econômico-financeira será um grande debate de ideias sobre o futuro da Terra". Concordo plenamente com ele. O grande debate será em torno das duas cosmologias presentes e em conflito no cenário da história.

Por cosmologia entendemos a visão do mundo - cosmovisão - que subjaz às ideias, práticas, hábitos e sonhos de uma sociedade. Cada cultura possui sua cosmologia. Por ela se procura explicar a origem, a evolução e o propósito do universo e definir o lugar do ser humano dentro dele.

Atualmente, a nossa é a cosmologia da conquista, da dominação e da exploração do mundo tendo em vista o progresso e o crescimento. Por força dessa cosmovisão, criaram-se inegáveis benefícios para a vida humana, mas também contradições perversas, como o fato de 20% da população mundial controlar e consumir 80% de todos os recursos naturais, gerando um fosso entre ricos e pobres como jamais havido na história.

O efeito final é o desequilíbrio do sistema Terra, que se expressa pelo aquecimento global. Com os gases já acumulados, a temperatura, até 2035, aumentará 2 graus Celsius; e se nada for feito, serão, no final do século, mais 4 ou 5 graus Celsius, o que tornará a vida praticamente impossível.

Em contraposição, surge uma cosmologia alternativa e potencialmente salvadora. Ela já tem mais de um século e ganhou sua melhor expressão na Carta da Terra. Deriva-se das ciências do universo, da Terra e da vida. Situa nossa realidade dentro da cosmogênese, aquele imenso processo de evolução que se iniciou a partir do big bang, há cerca de 13,7 bilhões de anos.
O universo está continuamente se expandindo, se auto-organizando e se autocriando. Seu estado natural é a evolução e não a estabilidade, a transformação e a adaptabilidade e não a imutabilidade e a permanência.

Todos os seres são interdependentes e colaboram entre si para coevoluírem e garantirem o equilíbrio de todos os fatores. Por trás de todos os seres atua a energia de fundo que deu origem e anima o universo e faz surgir emergências novas. A mais espetacular delas é a Terra viva e nós, humanos, como a porção consciente e com a missão de cuidar dela.

O conjunto das crises atuais está criando uma espiral de necessidades de mudanças que, não sendo implementadas, nos conduzirão fatalmente ao caos coletivo. Mas, assumidas, nos poderão elevar a um patamar mais alto de civilização.

É nesse momento que a nova cosmologia se revela inspiradora. Esse modelo procura construir sociedades autossustentáveis dentro das potencialidades e dos limites das biorregiões, baseadas na ecologia, na cultura local e na participação das populações, respeitando a natureza e buscando o "bem viver", que é a harmonia entre todos e com a Terra.

O que caracteriza essa nova cosmologia é o cuidado no lugar da dominação, o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida e os direitos e a dignidade da natureza e não sua exploração.

A força dessa cosmologia reside no fato de estar mais de acordo com as reais necessidades humanas e com a lógica do próprio universo. Se optarmos por ela, criar-se-á a oportunidade de uma civilização planetária na qual o cuidado, a cooperação, o amor, o respeito, a alegria e a espiritualidade ganharão centralidade. Será a grande virada salvadora que urgentemente precisamos.

escrito por:LEONARDO BOFF
Teólogo - lboff@leonardoboff.com

fonte:Otempo

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