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9 de abril de 2010

Pelo princípio do ganha-ganha, todos ganham e ninguém perde

Por séculos, essa troca competitiva conseguiu abrigar a todos. Mas hoje as possibilidades estão se esgotando, como o evidenciou a crise de 2008

Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior

Se olharmos o mundo como um todo, percebemos que quase nada funciona a contento. A Terra está doente. E como somos, enquanto humanos, também Terra (homem vem de humus), nos sentimos também, de certa forma, doentes.

Parece-nos evidente que não podemos prosseguir nesse rumo, pois nos levaria a um abismo. Fomos tão insensatos nas últimas gerações que construímos o princípio de autodestruição acrescido pelo aquecimento global irreversível. Isso não é fantasia holywoodiana. Entre estarrecidos e perplexos, nos perguntamos: como chegamos a isso? Como vamos sair desse impasse global? Que colaboração cada um pode dar?

Em primeiro lugar, há de se entender o eixo estruturador da sociedade-mundo, principal responsável por esse curso perigoso. O tipo de economia que inventamos, com a cultura que a acompanha, é de acumulação privada, de consumismo não solidário a preço da pilhagem da natureza. Tudo é feito mercadoria para a troca competitiva. Nessa dinâmica só o mais forte ganha. Os outros perdem ou se agregam como sócios subalternos ou desaparecem. O resultado dessa competição de todos contra todos é a transferência fantástica de riqueza para os grandes conglomerados ao preço do empobrecimento geral.

Mas há que reconhecer: por séculos, essa troca competitiva conseguiu abrigar a todos, bem ou mal, sob seu guarda-chuva. Criou mil facilidades para a existência humana. Mas hoje as possibilidades desse tipo de economia estão se esgotando como o evidenciou a crise econômico-financeira de 2008. A maioria dos países e pessoas se encontram excluídos. O Brasil não passa de um sócio subalterno dos grandes, com a função a ele reservada de ser um exportador de matérias-primas e não um produtor de inovações tecnológicas que lhe dariam os meios para moldar seu próprio futuro. Não nos descolonizamos ainda totalmente.

Ou mudamos ou a vida na Terra corre risco. Onde buscar o princípio articulador de uma outra forma de vivermos juntos, de um novo sonho para frente? Em momentos de crise total e estrutural, precisamos consultar a fonte originária de tudo: a natureza. Ela nos ensina o que as ciências da Terra e da vida já há muito nos estão dizendo: a lei básica do universo não é a competição que divide e exclui, mas a cooperação que soma e inclui. Todas as energias, todos os elementos, todos os seres vivos, das bactérias aos seres mais complexos, são interdependentes.

Aceito esse dado, temos condições de formular uma saída para as nossas sociedades. Há que se fazer conscientemente da cooperação um projeto pessoal e coletivo, coisa que não se viu em Copenhague na COP-15 sobre o clima. Ao invés da troca competitiva, na qual só um ganha e os demais perdem, devemos fortalecer a troca complementar e cooperativa, pela qual todos ganham porque todos participam. Importa assumir o que a mente do Nobel de matemática John Nesh formulou: o princípio do ganha-ganha, pelo qual todos saem beneficiados sem haver perdedores.

Para conviver humanamente inventamos a economia, a política, a cultura, a ética e a religião. Mas desnaturamos essas realidades "sagradas" envenenando-as com a competição e o individualismo, dilacerando assim o tecido social.

A nova centralidade social e a nova racionalidade salvadora está fundada na cooperação, no pathos, no sentimento profundo de pertença, de familiaridade, de hospitalidade e de irmandade com todos os seres. Se não fizermos essa conversão, preparemo-nos para o pior.

Escrito por:Leonardo Boff

fonte:Otempo

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