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30 de abril de 2010

Conferência mundial dos povos fecha com direitos da Mãe Terra

Em dezembro de 2009, realizou-se em Copenhague a Conferência Mundial dos Estados sobre o Clima. Foi dominada pela lógica do capital e não pela lógica da ecologia. Os delegados e chefes de Estado presentes representavam mais os interesses econômicos que seus povos. Não se via o todo, a vida e a Terra, mas os interesses de cada país.

A lógica ecológica vê o interesse coletivo, pois visa o equilíbrio entre homem e natureza, entre produção, consumo e capacidade de recomposição dos recursos da Terra. Rompendo essa equação, o que o modo de produção capitalista vem fazendo há séculos, surgem efeitos não desejados, chamados de "externalidades": devastação da natureza, injustiças sociais, desconsideração das necessidades das futuras gerações e o aquecimento global, que, no limite, pode pôr tudo a perder.

Em Cochabamba, na Bolívia, viu-se o contrário: o triunfo da lógica da ecologia e da vida. Nos dias 19 a 23, celebrou-se a Cúpula Mundial dos Povos sobre as Mudanças Climáticas e os Direitos da Mãe Terra. Ali estavam 35 mil representantes, vindos de 142 países. O centro era a Terra, tida como Pacha Mama, Grande Mãe, sua dignidade e direitos, a vida em toda a sua diversidade, nossa responsabilidade comum em garantir as condições ecológicas, sociais e espirituais que nos permitem viver, sem ameaças, neste planeta.

As 17 mesas de trabalho, ao contrário de Copenhague, chegaram a um consenso, pois todos tinham na mente e no coração o amor à vida e à Pacha Mama, "com a qual todos temos uma relação indivisível, interdependente, complementar e espiritual".

No lugar do capitalismo competitivo, do crescimento ilimitado, hostil à natureza, se colocou "o bem viver", categoria central da cosmologia andina, como alternativa para a humanidade. Consiste em viver em harmonia consigo mesmo, com os outros, com a Pacha Mama, com as energias da natureza, do ar, do solo, das águas, das montanhas, dos animais e das plantas e com os espíritos e a divindade, sustentada por uma economia do suficiente e decente para todos, incluídos os demais seres.

A Declaração dos Direitos da Mãe Terra prevê, entre outros: o direito à vida e à existência; o direito de ser respeitada; o direito à continuação de seus ciclos e processos vitais, livre de alterações humanas; o direito a manter sua identidade e integridade com seus seres diferenciados e inter-relacionados; o direito à água como fonte de vida; o direito ao ar limpo; o direito à saúde integral; o direito a estar livre da contaminação e da poluição de dejetos tóxicos e radioativos; o direito a uma restauração plena e pronta das violações infligidas pelas atividades humanas.

Previu-se também a criação de um Tribunal Internacional de Justiça Climática e Ambiental, com capacidade jurídica de prevenir, julgar e sancionar Estados, empresas e pessoas por ações ou omissões que provoquem mudanças climáticas e que atentem contra os ecossistemas que garantem o "bem viver".

Resolveu-se levar os resultados da cúpula à ONU para que seus conteúdos sejam contemplados na próxima conferência mundial, em novembro/dezembro, em Cancún, no México.

O significado mais profundo é a convicção de que não podemos mais confiar o destino da vida e da Terra aos chefes de Estado. O Brasil, lamentavelmente, não enviou nenhum representante, pois para o governo parece ser mais importante a "aceleração do crescimento" que garantir o futuro da vida. Essa Cúpula dos Povos apontou a direção certa: para uma biocivilização em equilíbrio de todos com todos e com tudo.

Escrito por:LEONARDO BOFF
Teólogo - iboff@leonardoboff.com.br


fonte:Otempo

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