A economia é o tema da Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade deste ano propõe que as comunidades cristãs, paroquiais e de base discutam o tema "Economia e Vida", central devido à crise econômica mundial.
Trata-se de resgatar o sentido originário da economia como atividade destinada a garantir a base material da vida. Ela não pode ocupar todos os espaços, como ocorreu nos últimos decênios. A sociedade virou uma sociedade de mercado, e todas as coisas viraram mercadorias. A economia é parte de um todo.
Distingo três espaços da atividade humana, um dos quais ocupado pela economia.Primeiro, somos seres de necessidade: precisamos comer, beber, ter saúde, morar e obter outros serviços. Nisso, todos dependemos uns dos outros. É o campo da economia. Em segundo lugar, somos seres de relação: colaboramos com os outros, instauramos direitos e deveres, observamos leis e, juntos, construímos o bem comum. É o lugar da política. Por fim, somos seres de criação: cada pessoa possui habilidades, não só reproduz o que está aí, mas cria, exerce sua liberdade e faz a sociedade avançar. É o âmbito da cultura. Todas essas atividades se entrelaçam, mesmo com conflitos.
Um capítulo fundamental da economia é o uso do dinheiro. No começo, não havia dinheiro, mas a troca. Reinava a relação direta e a confiança de que as trocas eram justas. Mas, ao sofisticar-se a sociedade, entrou o dinheiro como meio de troca. E aí surgiu um risco, pois dinheiro significa poder, que obedece a esta lógica: "Quem não tem, quer ter; quem tem, diz ‘quero ter mais’; e quem tem mais, diz ‘nunca é suficiente’". Aí surge a especulação que é ganhar sem trabalhar, dinheiro fazendo dinheiro. Mas o dinheiro tem três usos legítimos: para comprar, para economizar e para doar.
Dinheiro para comprar é necessário para o consumo daquilo que precisamos. Mesmo assim devemos sempre perguntar: compro porque preciso ou porque sigo a propaganda ou a moda? Quem fabrica explora os funcionários? Ao produzir, respeita os direitos humanos e a natureza? Esse dinheiro é para o hoje.
O segundo uso do dinheiro é aquele para economizar. É coisa para o amanhã. Não sabemos as voltas que a vida dá: doença, desemprego, aposentaria insuficiente. Muitos nem conseguem economizar, pois consomem tudo na sobrevivência. Mas, se sobrar, onde colocar esse dinheiro? Deixá-lo no colchão é dinheiro morto que nada produz. Os bancos guardam o dinheiro. Fazem-no render ao emprestá-lo a quem quer produzir e não dispõe de capital próprio. Esse recebe o dinheiro como empréstimo, mas fá-lo render na produção e paga um juro ao banco, que repassa uma parte ao dono do dinheiro. Uma pessoa consciente quer saber para quem o dinheiro é emprestado: para fabricar armas, para apoiar empresas que devastam a natureza? Extraordinária é a decisão em Bangladesh e no Brasil de criar o microcrédito para apoiar pobres que querem produzir.
O terceiro uso é para doar. O dinheiro não é para a acumulação, mas para a circulação. Se atendo com suficiência e decência as minhas necessidades, se tenho economias que me dão certa tranquilidade para o futuro, se tenho garantido o bem-estar e certo futuro à família, a doação é um ato de desprendimento. Expressa a gratidão pelo dom da vida, da saúde, do amor recebidos dos outros. É altamente ético doar para os flagelados do Haiti, para apoiar projetos de combate à prostituição infantil ou de creches para populações da periferia. E aí sentimos que, ao dar, recebemos a alegria impagável de ter feito o bem.
Escrito por LEONARDO BOFF
Teólogo - iboff@leonardoboff.com.br
12 de março de 2010
Os três usos do dinheiro: para comprar, economizar e doar
Postado por
Ewerton
às
sexta-feira, março 12, 2010
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