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19 de fevereiro de 2010

O PT e a grande transformação: o mercado ou a sustentabilidade?

O Brasil é o país-chave para o equilíbrio do planeta

Não sou membro do PT, mas um cidadão que se interessa pelos destinos do nosso país.
A campanha eleitoral se iniciará dentro de pouco. Há o risco de que predomine um espírito menor de uma campanha plebiscitária entre os feitos dos governos de FHC e de Lula. Seria a disputa tola entre o ontem e o anteontem ou entre o atrasado e o velho. Pois ambos os contendores, na relação desenvolvimento e natureza, manejam o mesmo paradigma, sob severa crítica mundial. Isso só serviria para distrair os eleitores dos verdadeiros problemas.
Uma disputa eleitoral séria, à altura da fase planetária da humanidade e da importância do Brasil dentro dela, não deveria estar voltada para o passado a ser continuado, mas, sim, para o futuro a ser construído. Quem apresenta o melhor projeto de Brasil para o nosso povo e em sua relação para com a nascente sociedade mundial? Que contribuição essencial podemos dar face aos cenários dramáticos que se desenham?

O lema do encontro do PT, "A Grande Transformação", nos remete a Karl Polanyi e seu livro de mesmo título (1944), no qual mostra como viramos uma sociedade de mercado, transformando tudo em mercadoria. Não será essa a transformação pensada pelo PT. Para que seja outra, o partido deve assumir este fato: a Terra mudou porque já estamos dentro do aquecimento global. A roda não pode mais ser parada, apenas diminuída sua velocidade. Se o termômetro da Terra subir para mais de dois graus Celsius, nos próximos decênios, enfrentaremos no Brasil e no mundo a tribulação da desolação. Muitos projetos do PAC poderão ser anulados. Não incluir em todos os planejamentos esse dado é falta de inteligência prática e irresponsabilidade histórica. Do contrário, teremos que aceitar a maldição de nossos filhos e netos.

Outro dado não menos perturbador é a insustentabilidade do sistema Terra. Desde 23 de setembro de 2008, o planeta ultrapassou em 30% sua capacidade de repor os bens e serviços necessários para a vida. Estamos consumindo hoje o que precisaremos amanhã. Se quisermos universalizar o nível de consumo das classes médias mundiais, precisaríamos já agora de três Terras iguais a esta. Esse modelo de crescimento, como parece subjacente ao PAC, mostra sua inviabilidade a médio e a longo prazo. Não é que deixemos de produzir. Devemos produzir, mas dentro de um outro paradigma menos depredador do sistema Terra, com um acordo de respeito à suportabilidade de cada ecossistema e com uma ampla inclusão social, imbuídos todos de uma ética do cuidado, da responsabilidade universal e da busca do bem viver para todos.

Por fim, o PT precisa conscientizar que o Brasil é, seguramente, o país-chave para o equilíbrio do planeta. Ele é a potência das águas, o detentor das maiores florestas - as grandes sequestradoras de dióxido de carbono e reguladoras dos climas -, com imensa biodiversidade e vastas terras agricultáveis, podendo ser a mesa posta para a fome do mundo inteiro, com capacidade incomparável de gerar energias alternativas e com um povo criativo, que fez um ensaio civilizatório dos mais significativos, não imperialista, e com uma visão encantada do mundo que lhe permite, no meio das contradições. Celebrar suas festas, torcer por seus times e dançar seus carnavais, características essas decisivas para conferir um rosto humano à mundialização em curso.

O futuro passa por nós. Não percebê-lo por ignorância ou distração é não escutar os apelos da Mãe Terra e defraudar seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs que apenas pedem singelamente para viver com decência.

Escrito por:Leonardo Boff
Teólogo - lboff@leonardoboff.com

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