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10 de agosto de 2009

Amuletos de retrovisor pode causar acidente

Criatividade não falta ao brasileiro, mas é preciso ficar atento aos riscos antes de pendurar um amuleto no retrovisor

Ao som de Elvis Presley, proprietários de modelos 'hot rod' e 'muscle cars', como Maverick, Mustang e Torino levaram da década de 1950 até a de 1970, nos Estados Unidos, a moda de pendurar dois dados no retrovisor do carro. Quando se avistava um sujeito com esses dadinhos, já se sabia que ele queria tirar um racha. Os dados, que remetem a jogos, eram uma forma de despistar a polícia. “Quando um dado estava acima do outro era o sinal para tirar racha, mas quando estavam nivelados é que era hora de namorar e não de correr”, explica o colaborador do comitê de veículos de passeio da Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE Brasil), Giovani Borgomoni.

Na mesma época, quem pilotava um “lowrider” (carro rebaixado) tinha o costume de pendurar a “bola 8” do bilhar, para dar sorte. E, assim, começou a mania que dura até hoje de pendurar objetos no espelho retrovisor. No Brasil, a moda também pegou, mas ganhou um toque regional. Os penduricalhos vão dos antigos dados aos símbolos religiosos de proteção, como as fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim e Nossa Senhora Aparecida.

O músico João Gonçalves é um desses apaixonados por carros, que resolveu pendurar um par de dados vermelhos no retrovisor, em homenagem aos muscle cars. “Como não posso ter um carro desses, comprei os dados em uma feira de tuning”, lembra Gonçalves. Mas não foi fácil manter os dadinhos pendurados. Quando os comprou, o músico dividia o carro com o irmão, que sempre dava um jeito de sumir com o amuleto. “Toda vez que eu entrava no carro via que os dados estavam escondidos”, ri. Gonçalves lembra que a primeira coisa que fez ao comprar um automóvel novo foi levar o enfeite. “Nem pedi para o meu irmão.”

Agora, ele tem de aguentar as piadas dos amigos. “Me perguntam se eu ‘tenho dado no carro’. Se eu fui à Disney, porque é ‘coisa de criança’”, conta. “Eu nunca ouvi elogio, mas todo mundo reconhece o meu carro de longe”. Apesar de adorar o penduricalho, o músico recorreu a outro amuleto para garantir sorte e proteção: um terço que comprou em Roma, na Itália. “Nunca bateram no meu carro, só me roubaram o estepe”, afirma.

Também adepta do terço como proteção, a dentista Andrea Rezende ganhou o objeto religioso da avó, assim que comprou o carro. “Ela até levou para benzer”, diz a dentista. Segundo Andrea, apesar de já terem batido no automóvel, sempre saiu intacta.

Ainda mais cauteloso, o analista de informática Flávio Fernandes Costa apelou para mais de um santo. Há quatro anos, ele tem pendurado no retrovisor do carro um crucifixo, uma pulseira com cruz e diversas fitinhas coloridas de Nossa Senhora Aparecida. Sobre o motivo que leva tantos brasileiros a pendurar objetos religiosos no carro, Costa tem uma explicação. “O brasileiro bota fé que se tiver a cruz de Jesus está protegido. Sou católico, sinto certa proteção”, afirma.

Mas não é apenas o catolicismo que alimenta o consumo por esses penduricalhos. A artesã Sula de Oliveira, que confecciona objetos de porcelana fria, o chamado biscuit, já teve de fazer até bruxinha para uma cliente pendurar no retrovisor. “Ela queria uma bruxa 'do bem'. Como a gente sempre pensa em bruxas com roupas pretas, fiz uma vestida com roupas claras”, lembra a artesã sobre a encomenda inusitada.
Objeto pode virar 'arma' com carro em alta velocidade

Criatividade não falta ao brasileiro, mas é preciso ficar atento aos riscos antes de pendurar um amuleto no retrovisor. De acordo com o engenheiro Giovani Borgomoni, a primeira precaução é em relação à segurança em caso de acidentes. O objeto que serviria para proteger pode virar uma arma dentro do carro, em caso de impactos frontais, e machucar os ocupantes.

“Fizemos testes em uma pista de provas e observamos que um objeto que pesa 200 gramas passa a ter 20 quilos em uma colisão com o carro a 80 km/h”, explica o engenheiro. “E esses objetos ficam na altura da cabeça dos passageiros”, ressalta o especialista sobre o perigo.

Outro ponto destacado por Borgomoni é a possibilidade de o espelho retrovisor cair. Em todos os carros, os retrovisores são colados no vidro, então, a alta temperatura em dias quentes aliada ao peso do enfeite pode causar a deterioração prematura da fixação do espelho no vidro.

Além disso, quem possui espelhos retrovisores eletrocrômicos (que escurecem conforme a luminosidade) ou com monitoramento da parte traseira (com tela de cristal líquido) pode ter os sistemas danificados. “O penduricalho pode diminuir a eficiência desses dispositivos. No caso do espelho eletrocrômico, pode até danificar o sensor ao balançar”, alerta o engenheiro.

A visibilidade também é prejudicada. Além de diminuir o ângulo de visão, os amuletos podem tirar a atenção do condutor. “Em uma situação de risco, de chuva à noite na estrada, aquele objeto balançando pode fazer com que o motorista não enxergue um buraco ou até mesmo provoque um choque frontal”, afirma. Com a popularização do GPS, o risco é ainda maior. “Muitas pessoas têm o hábito de grudar o GPS no vidro do carro. Se for colocar ainda um enfeite no retrovisor, o comprometimento da visibilidade é ainda pior.”

Para evitar acidentes sem deixar a fezinha ou o modismo de lado, Giovani Borgomoni recomenda trocar o retrovisor pelo porta-objetos ou porta-luvas. “O espelho retrovisor não foi feito para pendurar nada.”

fonte:G1

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