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24 de junho de 2011

Crise não é mais conjuntural ou estrutural, mas terminal

Encostamos nos limites da Terra sobretudo o capitalismo

Tenho sustentado que a crise atual do capitalismo é mais que conjuntural e estrutural. É terminal. Chegou ao fim o gênio do capitalismo de sempre adaptar-se a qualquer circunstância. Estou consciente de que são poucos os que defendem essa tese. Duas razões me levam a essa interpretação.

A crise é terminal porque todos nós, particularmente o capitalismo, encostamos nos limites da Terra. Ocupamos, depredando, todo o planeta, desfazendo seu equilíbrio e exaurindo seus bens e serviços a ponto de ele não conseguir, sozinho, repor o que lhe foi sequestrado. Já nos meados do século XIX Karl Marx escreveu profeticamente que a tendência do capital ia destruir as duas fontes de sua riqueza e reprodução: a natureza e o trabalho.

É o que está ocorrendo.

A natureza, efetivamente, se encontra sob grave estresse, como nunca esteve antes, abstraindo as 15 grandes dizimações que conheceu em mais de quatro bilhões de anos. Os eventos extremos em todas as regiões e as mudanças climáticas tendendo a um crescente aquecimento global falam em favor da tese de Marx. Como o capitalismo vai se reproduzir sem a natureza?
O trabalho está sendo por ele precarizado ou prescindido. Há grande desenvolvimento sem trabalho. O aparelho produtivo informatizado e robotizado produz mais e melhor com quase nenhum trabalho. A consequência direta é o desemprego estrutural.
Milhões nunca mais vão ingressar no mundo do trabalho, sequer no exé

rcito de reserva. O trabalho, da dependência do capital, passou à prescindência. Na Espanha o desemprego atinge 20% no geral e 40% entre os jovens. Grave crise social assola neste momento a Grécia. Sacrifica-se toda uma sociedade em nome de uma economia feita não para atender às demandas humanas, mas para pagar a dívida com o sistema financeiro. Marx tem razão: o trabalho explorado já não é mais fonte de riqueza. É a máquina.

A segunda razão está ligada à crise humanitária que o capitalismo está gerando. Antes, se restringia aos países periféricos. Hoje, é global e atingiu os países centrais. Não se pode resolver a questão econômica desmontando a sociedade. As vítimas resistem, se rebelam e ameaçam a ordem vigente. Mais e mais pessoas, especialmente jovens, não estão aceitando a lógica perversa da economia política capitalista: a ditadura das finanças que, via mercado, submete os Estados a seus interesses e o rentitentismo dos capitais especulativos que circulam de bolsas em bolsas, auferindo ganhos sem produzir absolutamente nada, a não ser mais dinheiro para seus rentistas.

Mas foi o próprio sistema do capital que criou o veneno que o pode matar: ao exigir dos trabalhadores uma formação técnica cada vez mais aprimorada para estar à altura do crescimento acelerado e de maior competitividade, involuntariamente criou pessoas que pensam.

Estas vão descobrindo a perversidade do sistema que esfola as pessoas em nome da acumulação meramente material, e que se mostra sem coração ao exigir mais e mais eficiência, a ponto de levar os trabalhadores ao estresse, ao desespero e, não raro, ao suicídio, como ocorre em vários países e também no Brasil.

Os "indignados" que enchem as praças de Espanha e da Grécia manifestam a revolta contra o sistema político vigente, a reboque do mercado e da lógica do capital. Os jovens espanhóis gritam: "Não é crise, é ladroagem".

Ao agravar-se a crise, crescerão as multidões, pelo mundo afora.


Escrito por:Leonardo Boff


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