
Para além das questões teológicas, consideremos o nascimento de Jesus em Belém e o seu significado para a humanidade cristã. Na cidade de Belém, em hebraico "Beit Lechem" (casa do pão ou padaria), o menino Jesus foi colocado numa manjedoura - lugar onde os animais comiam, não digno para o Filho de Deus. Esse fato é significativo para os seguidores de Jesus, que viriam mais tarde. A Igreja-Comunidade haveria de ser construída a partir dele. Como compreender essa afirmação? É simples. Manjedoura, em grego, se diz "fatné", termo que se usa para expressar toda cavidade aberta em uma superfície de um terreno vertical ou inclinado.
Próximo a "fatné" está o substantivo aramaico usado naquela época, "kepha" ou "cefas", nome que Jesus atribuiu a Pedro e que significa, assim como "fatné", gruta escavada na rocha, isto é, buraco formado a partir da escavação feita pelos trabalhadores nas rochas, para daí tirarem blocos de pedras para a construção civil. O hebraico usa o substantivo "kaf" para dizer palma ou cavidade da mão. A letra c do português é uma variação do k e representa justamente uma curvatura, uma cavidade que oferece aconchego e refúgio.
Os pobres moravam nessas grutas. As "kephas" eram numerosas nos lugares desertos. Bandidos e até mesmos refugiados de guerra se escondiam nelas (Jr 30,1-14). "kepha" traduz também o substantivo grego "pétros" (Pedro) e está ligado ao nascimento de Jesus. Mais tarde, Ele se lembra disso, quando diz a Pedro: "Tu és caverna escavada na rocha, e sob (debaixo) essa caverna, onde vivem os pobres, aí edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18). Assim, esse sentido de "kepha" muda completamente a tradicional tradução: "Tu és Pedro, e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja". O nascimento de Jesus em Belém serviu para colocar os alicerces da Igreja. Jesus nasce pobre para libertar os pobres. Pedro continua rocha e caverna, casa dos pobres, periferia do mundo, onde as igrejas devem anunciar a libertação. Esse é o grande significado do Natal, libertar e renascer sempre, apesar da violência e do muro construído e imposto por Israel a Belém.
Jacir de Freitas Faria
Professor; diretor dos colégios Santo Antônio e Frei Orlando
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